Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

Plaza e tomou a 5th Avenue, que o levaria até ao Empire State Building.
Caminhava para lá, mas perguntava-se o que faria se Isabel aparecesse, se
ainda valeria a pena, se havia uma segunda oportunidade para um amor
arruinado por circunstâncias antigas. Agora que estava tão perto do local e da
hora marcada, Filipe sentia-se ridículo só por lhe passar pela cabeça a
hipótese de Isabel comparecer ao encontro, tantos anos depois de o terem
marcado e de terem se separado. No entanto, continuou a dirigir-se para lá.


Isabel leu a referência a Filipe dias antes, num jornal online, por mero acaso.
Foi na sexta-feira anterior, no escritório, quando dava uma passada de olhos
pelas notícias da manhã. O site trazia uma pequena informação sobre a
presença de Filipe em Nova York, onde iria participar de vários encontros
com leitores e de duas conferências. O coração começou a bater mais
depressa. Sabia que Filipe faria cinquenta anos dali a alguns dias, nunca se
esquecia da data, e sabia exatamente o significado da data neste ano em
particular, lembrava-se como se fosse hoje de terem decidido encontrar-se no
Empire State Building. Mas tinha sido há tanto tempo. E nunca passara de
uma brincadeira, de uma fantasia, que nenhum dos dois levara a sério. Ou
levara? Tinham passado anos desde então, vidas separadas, destinos
diferentes, e, apesar disso, Filipe estaria em Nova York no dia combinado...
Isabel recostou-se na cadeira com os olhos postos na tela do computador,
incrédula, sem saber o que pensar. Não podia ser uma coincidência, não
acreditava que ele se tivesse esquecido e marcado a viagem para a semana dos
seus cinquenta anos. Era uma data especial, e ele não a festejaria sozinho no
exterior se não tivesse uma razão muito forte. Não, não era um acaso, Filipe ia
mesmo ao seu encontro em Nova York.


Isabel levantou-se, saiu do gabinete com as pernas tremendo, foi buscar um
copo de água na máquina do corredor. Não esperava aquilo e não sabia o que
fazer. Podia ignorar o assunto, simplesmente, não pensar mais nisso e seguir
em frente. Mas era isso que queria? A possibilidade de largar tudo e partir
para Nova York ao encontro de Filipe parecia-lhe uma loucura. Mas ele ia
fazer precisamente isso. Ponderou telefonar-lhe para avisá-lo de que não iria,
diria que lera a notícia e brincaria com a situação, como se não acreditasse
que ele fosse a Nova York por causa dela. Era isso, decidiu, voltou para o
gabinete, sentou-se, pegou o celular e procurou o número dele – ainda o tinha,
embora não soubesse se ainda era o mesmo. Mas não chegou a fazer a
chamada. Não lhe telefonava há anos, nem saberia por onde começar a
conversa. Pensando melhor, parecia-lhe disparatado ligar para Filipe ao fim
daqueles anos todos para desmarcar um encontro no Empire State Building,

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