24 • Público • Quinta-feira, 19 de Setembro de 2019
NUNO FERREIRA SANTOS
A AdC abriu a investigação à EDP em Setembro de 2016
A Autoridade da Concorrência (AdC)
condenou a EDP ao pagamento de
uma coima de 48 milhões de euros
pelos danos causados aos consumi-
dores com a actuação das suas barra-
gens no mercado de serviços de siste-
ma (mercado de telerregulação) entre
2009 e 2013.
Em Setembro de 2018, a AdC acu-
sou a empresa liderada por António
Mexia de “abuso de posição domi-
nante”, considerando que foi uma
“prática que causou aumentos de
preços na factura de electricidade
paga pelos consumidores”.
Ontem, depois de concluído o
período dado à EDP para se defender
da acusação, a entidade reguladora
liderada por Margarida Matos Rosa
conÆrmou a decisão, impondo à
empresa o pagamento de uma coima
de 48 milhões de euros.
Fonte oÆcial da EDP conÆrmou ao
PÚBLICO que a empresa foi notiÆ#
cada da decisão da AdC e que vai
agora analisá-la. A EDP poderá
AdC condena a EDP a coima
de 48 milhões de euros
recorrer desta decisão para o Tribu-
nal da Concorrência.
Pelas contas da reguladora, a actua-
ção da EDP Produção (a empresa que
detém as barragens) traduziu-se num
“dano para o sistema eléctrico nacio-
nal e para os consumidores de cerca
de 140 milhões de euros”.
Segundo a AdC, durante cinco
anos, a EDP Produção limitou a ofer-
ta de capacidade de prestação do
serviço de telerregulação das suas
centrais com contratos CMEC (custos
para a manutenção do equilíbrio con-
tratual) “para a oferecer através das
centrais em regime de mercado, de
modo a ser duplamente beneÆciada,
em prejuízo dos consumidores”.
Uma vez que as centrais com
CMEC já têm receitas protegidas, a
EDP Produção optou, segundo a
AdC, por as subutilizar, para, com
isso, aumentar os proveitos de teler-
regulação das barragens que actuam
em concorrência.
“Ao obter compensações públicas
pagas no âmbito do regime CMEC e
beneÆciar de receitas mais elevadas
nas centrais não CMEC simultanea-
mente, a EDP Produção onerava os
consumidores por essas duas vias”,
justiÆcou a AdC, quando acusou
formalmente a empresa, num pro-
cesso que se iniciou em Setembro
de 2016.
O facto de ter posição dominante
no mercado da produção, aliado ao
facto de a procura de electricidade
ser rígida (pouco variar), “conferiu à
EDP Produção a aptidão para inÇuen-
ciar a formação dos preços no merca-
do da telerregulação”, concluiu a
Autoridade da Concorrência.
O serviço de telerregulação é pres-
tado pelos produtores à REN, a gesto-
ra do sistema eléctrico, e destina-se a
assegurar a cada momento o equilí-
brio perfeito entre a procura e a ofer-
ta de electricidade. Os centros produ-
tores que estão equipados para aten-
der aos pedidos da REN e garantir
esse equilíbrio permanente são remu-
nerados por isso. Se, por um lado, o
serviço permite evitar a ocorrência
de falhas de fornecimento, também
é um dos custos que os consumidores
suportam nas tarifas.
A AdC não foi o único regulador a
olhar para a actuação da EDP neste
mercado. Em Março de 2013, a Enti-
dade Reguladora dos Serviços Ener-
géticos (ERSE) enviou à AdC e ao
Governo uma análise sobre os custos
dos serviços de sistema que indicava
“a possibilidade de estarem a ser
incumpridas disposições da lei da
concorrência” pela EDP. Isto, depois
de ter concluído que os preços dos
serviços subiram signiÆcativamente,
mesmo tendo havido um aumento
“expressivo da capacidade” existente
em mercado para os prestar.
Concorrência diz que
actuação da dona das
barragens lesou os
consumidores em
140 milhões de euros
Energia
Ana Brito
[email protected]
Aviação
Transportadora aérea
irlandesa mantém
presença no Algarve,
depois de ter ameaçado
fechar a operação na região
A Ryanair chegou a acordo com a ANA
— Aeroportos de Portugal para man-
ter a base em Faro, ainda que mais
reduzida, bem como de uma parte
dos postos de trabalho afectos, de
acordo com uma nota enviada à agên-
cia Lusa, sem pormenorizar.
Através de um comunicado, a com-
panhia aérea irlandesa conÆrma que
chegou “a um acordo com a ANA,
operador do aeroporto de Faro, que
poderá permitir cancelar o encerra-
mento previsto da sua base com três
aviões neste Inverno”. “Em vez disso,
a base de Faro poderá agora ser redu-
zida para dois aviões a partir de
Novembro deste ano e até Março de
2020, devido ao atraso nas entregas
de perto de 30 aviões Boeing Max à
Ryanair”, avança na nota.
No dia 6 de Agosto, pouco antes da
greve dos tripulantes de cabina mar-
cada para os dias 21 a 25 desse mês, a
Ryanair avisou, segundo aÆrmou
então à Lusa a presidente do Sindica-
to Nacional do Pessoal de Voo da Avia-
ção Civil (SNPVAC), Luciana Passo,
que ia fechar a sua base no aeroporto
algarvio em Janeiro de 2020 e despe-
dir cerca de cem trabalhadores
(embora mantendo os voos).
A estratégia estaria incluída num
plano de redução de custos que impli-
Ryanair reduz
base de Faro
e abandona rota
Porto-Lisboa
cava outras bases, como a de Teneri-
fe, a de Las Palmas e a de Girona, em
Espanha. Em Portugal, além de Faro,
a Ryanair tem também bases em Lis-
boa, Porto e Ponta Delgada.
Ponte aérea cessa
Na sua estratégia para Portugal, a Rya-
nair decidiu também abandonar a
rota entre o Porto e Lisboa a partir de
25 de Outubro “por razões comer-
ciais”, disse fonte oÆcial à Lusa.
A informação fora ontem avançada
pelo Jornal de Notícias, que dava con-
ta de que já não era possível marcar
voos para o mês de Novembro.
“Devido a razões comerciais, a nos-
sa ligação entre o Porto e Lisboa dei-
xará de operar a partir de 25 de Outu-
bro”, respondeu a companhia aérea,
questionada pela agência. “No entan-
to, continuaremos a operar 57 rotas
do Porto e 30 de Lisboa no Inverno
de 2019”, contrapôs a Ryanair.
Já a TAP anunciou, em 13 de Agosto,
que em 2020 a ponte aérea do Porto
para Lisboa iria ganhar “mais uma
frequência diária em relação ao Verão
de 2019”, recordou a Lusa.
A 29 de Julho, a Ryanair anunciou
uma descida de 21% nos lucros (para
243 milhões de euros) no primeiro
trimestre do seu ano Æscal, que justi-
Æcou com a subida dos custos com o
pessoal e combustível, e com a desci-
da das tarifas. As receitas subiram
11%, para 2,3 mil milhões de euros.
No próximo dia 27 de Setembro, a
transportadora aérea irlandesa vai
sofrer mais um dia de greve, não só
em Portugal, mas também em Espa-
nha (tripulantes) e Reino Unido (pilo-
tos). PÚBLICO/Lusa
Ryanair reduz em Faro e termina com ponte aérea Porto-Lisboa
ECONOMIA
WILL OLIVER/EPA