Público - 19.09.2019

(Ron) #1
Público • Quinta-feira, 19 de Setembro de 2019 • 35

CULTURA


Breves


Cinema


Documentário


Festa do Cinema


Francês homenageia


Agnès Varda


Leonard Cohen e a


sua Marianne abrem


o Porto/Post/Doc


Uma homenagem a Agnès
Varda, que morreu em Março,
e uma retrospectiva dedicada
ao actor Jean-Louis Trintignant
integrarão a 20.ª Festa do
Cinema Francês, que se inicia
a 3 de Outubro, em Lisboa,
prosseguindo depois, até
Novembro, por Almada,
Setúbal, Coimbra, Porto,
Portimão, Leiria e Beja. A
homenagem a Agnès Varda
passará pela exibição de uma
selecção dos seus filmes,
incluindo o último, Varda par
Agnès
. Já Trintignant, de 88
anos, estará em Lisboa no dia
12 para o filme Les plus belles
annèes d’une vie
, de Claude
Lelouch. Convidadas estão
ainda Mia Hansen-Love, que
apresentará Maya , e Agnès
Jaoui, que traz Place Publique.


Marianne & Leonard: Words Of
Love
, o documentário de Nick
Broomfield sobre a relação de
Leonard Cohen com uma das
suas musas, abre a próxima
edição do festival de cinema
documental Porto/Post/Doc, a
23 de Novembro. A sessão
integra a secção Transmission,
focada na cultura pop, cuja
programação foi anunciada
ontem. Também em destaque
estará o realizador britânico
Mike Christie, com três
documentários em estreia
nacional: Hansa Studios: By
The Wall 1976-90
, sobre os
anos dourados de um dos mais
conhecidos estúdios de
gravação de Berlim, New
Order: Decades
e Suede: The
Insatiable Ones
. O festival vai
ainda exibir Haut Les Filles , de
François Armanet, sobre as
mulheres do rock francês.


Last , a coreograÆa de António Cabri-
ta e São Castro para a Companhia
Paulo Ribeiro (CPR) que marca o
arranque de temporada do Teatro
Viriato, em Viseu, a 19 e 20 de Setem-
bro (seguem-se apresentações em
Ílhavo, Porto e Lisboa), aponta para
uma certa ideia última ou derradei-
ra. Mas, no caso, trata-se sobretudo
de um to last que vem do verbo per-
durar e alude aos 20 anos da CPR
como companhia residente do Viria-
to, às duas décadas de uma nova vida
insuÇada no equipamento cultural
viseense e a uma ideia antiga que
andava há muito na cabeça dos
coreógrafos. Logo na segunda peça
que criaram em conjunto, Play False
(2014), António e São iniciaram o
desenho de uma trilogia oÆciosa que
os obrigava a partir de outra discipli-
na artística para buscarem a inspira-
ção coreográÆca. Play False assen-
tou, portanto, no teatro de William
Shakespeare, seguindo-se Rule of
Thirds (2016), construída sobre a
relação com as imagens do fotógrafo

O difícil desafio de


coreografar os quartetos


de Beethoven


músicos, lembra São Castro, chama-
ram aos quartetos “um Monte Eve-
reste”, dada a complexidade da sua
interpretação. Quando os coreógra-
fos se puseram a escutar os Quartetos
n.º 12 e n.º 16 (primeiro e último des-
ta série tardia), duvidaram de que
conseguissem chegar à data de estreia
com uma peça criada sob o pressu-
posto inicial. “Ficámos muito mais
assustados porque percebemos que
era tamanha a complexidade da
estrutura e da ousadia”, confessam.
Depois, com a consciência de que
a dramaturgia no corpo dos bailari-
nos (Ana Moreno, Ester Gonçalves,
Guilherme Leal, Miguel Santos e
Rosana Ribeiro) “tinha de ser muito
mais instalada, trabalhada e conse-
guida” do que habitualmente “para
haver uma construção consistente
entre música e dança”, foram traba-
lhando sobre movimentos abstractos
ou traços da vida de Beethoven suge-

ridos com subtileza — como “a sur-
dez, a irascibilidade, os amores não
concretizados, a paixão que tinha
pelo sobrinho”. Aos poucos, as diÆ#
culdades foram ultrapassadas e os
dois foram percebendo que Last
podia existir sem partilharem a lin-
guagem romântica de Beethoven. No
limite, o movimento permite-se
seguir os tempos, as notas e a estru-
tura, para logo em seguida reclamar
o seu próprio caminho.
“Esta música é muito abstracta,
muito cerebral e muito complexa e a
peça é um confronto com a nossa
linguagem”, resume António Cabrita.
A análise cuidada da obra do autor
alemão levou-os também a concluí-
rem que teriam de se relacionar com
os ziguezagues constantes que a com-
posição revela, baloiçando num mes-
mo andamento entre uma poesia
sublimada e uma escrita furiosa, e
com as falsas pistas que o compositor
espalha pela partitura, “preparando
músicos e público para ideias que
não concretiza”. Daí que, ao perce-
berem que, no entender dos músi-
cos, estas são peças que “não têm
imagens nem metáfora”, funcionan-
do como exercício de composição
puro e duro, António e São decidiram
que também este seria um exercício
coreográÆco e plástico, na “relação
dos corpos com a luz e com o espaço
cénico”. Se para Beethoven tudo
parecia possível, para os dois coreó-
grafos não poderia ser diferente.

Dança
Gonçalo Frota

O Teatro Viriato abre a
temporada com Last ,
criação de António Cabrita
e São Castro para a
Companhia Paulo Ribeiro

ANTÓNIO CABRITA E SÃO CASTRO

Corpo de bailarinos juntou-se em palco ao Quarteto de Cordas de Matosinhos para o desafio de interpretar Beethoven

Henri Cartier-Bresson. Pelo meio, as
obras criadas no contexto da progra-
mação da Companhia Nacional de
Bailado — Tábua Rasa e Turbulência ,
assinadas em parceria com Henriett
Ventura e Xavier Carmo, mais a ver-
são que os dois inventaram para o
clássico Dido e Eneias —, a convite de
Luísa Taveira, foram adiando a che-
gada do capítulo Ænal da trilogia.
Em Ænal de 2016, quando Paulo
Ribeiro sucedeu a Luísa Taveira na
Companhia Nacional de Bailado,
entregou a direcção artística a Antó-
nio e São. Foi nessa altura que a ideia
adiada de avançar para Last come-
çou a ameaçar concretizar-se. Depois
do teatro e da fotograÆa, os dois qui-
seram rodear-se de música, em par-
ticular dos últimos quartetos de cor-
das que Beethoven compôs, numa
altura em que a sua surdez o fechava
cada vez mais num mundo de sons
imaginados. Era algo que tinha Æca-
do marcado na memória de António
Cabrita quando, em 2006, um amigo
o convenceu de que “seria um gran-
de desaÆo” coreografar estas peças
de Beethoven.
Só que a dupla não antevia ainda a
diÆculdade com que se iriam defron-
tar já depois de terem chamado o
Quarteto de Cordas de Matosinhos
para se lhes juntar em palco, na inter-
pretação ao vivo dos quartetos, e no
pedido para que fossem os músicos
a escolher duas peças que garantis-
sem uma hora de espectáculo. Os

António Cabrita


e São Castro


trabalharam sobre
movimentos

abstractos ou


traços da vida de


Beethoven
sugeridos com

subtileza

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