Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

20 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


LOCAL


Escadas dos Judeus foram


desmontadas mas serão repostas


O cenário impressiona e tem causado
burburinho. Algumas das íngremes
escadas do Monte dos Judeus, que
ligam a zona de Miragaia à cota mais
alta da cidade, desapareceram. No
lugar, há um estaleiro de obra mon-
tado, estruturas de madeira improvi-
sadas para garantir a ligação de quem
passa, uma placa da autarquia sobre
o projecto de ligações mecanizadas
em Miragaia. As históricas escadas,
no entanto, não terão sido demolidas.
Apenas retiradas por imposição téc-
nica da obra, estando prevista a sua
reposição posteriormente.
A garantia foi dada ao PÚBLICO por
João Crisóstomo, um dos arquitectos
responsáveis pelo projecto, e subli-
nhada pelo gabinete de comunicação
da Câmara do Porto, que gere esta
empreitada, iniciada no Æm de Maio,
através da empresa municipal Go Por-
to: “As escadas foram retiradas por
causa da obra, mas serão novamente
colocadas.”
Os esboços do que ali se fará foram
divulgados há mais de dois anos, em
Julho de 2017, quando a autarquia
anunciou o vencedor do concurso
público lançado meses antes: um tra-
balho conjunto dos gabinetes por-
tuenses depA e Pablo Pita (Pablo
Rebelo e Pedro Pita).
O executivo de Rui Moreira tinha
pedido uma solução de ligações
mecanizadas que mitigasse as diÆcul-
dades de locomoção da envelhecida
população de Miragaia e possibilitas-
se aos turistas uma viagem atractiva
e mais segura. E os arquitectos apre-
sentaram uma proposta com dois
elevadores e diversas escadas-rolan-
tes. Na altura, o arquitecto Luís Sobral
explicou ao PÚBLICO a estratégia de
intervenção naquele “enquadramen-
to paisagístico muito forte” onde pro-
curavam intervir sem descaracterizar:
as escadas-rolantes subiriam a encos-
ta de Miragaia lado a lado com as
escadas de pedra existentes, “encai-
xando-se” nessa elevação através de
uma composição partida em vários
troços.
A “integridade urbanística” do
desenho, que adoptou “sistemas


Câmara do Porto e arquitectos da obra garantem que património está salvaguardado. Retirada das


históricas escadas em Miragaia será temporária e estaria prevista no projecto de execução


vencedora, “as escadas existentes são
conservadas sendo introduzidos can-
teiros em zonas de transição de cotas
que pontuam a longa subida”. Apesar
dos meios mecânicos, diz o relatório,
o percurso poderá ser “integralmen-
te percorrido através da antiga esca-
daria mantendo-se a sua vertente de
fruição lúdica”.
As “peças” retiradas foram “nume-
radas e guardadas”, informou o arqui-
tecto. Algumas delas, por estarem em
mau estado, terão de ser “requaliÆca-
das”, estando mesmo previstos
“pequenos lanços novos” nas que
forem impossíveis de reabilitar. Tal,
no entanto, “não implica perda de
património”.
A acompanhar a obra, aÆrma João
Crisóstomo, está mesmo uma “equi-

PAULO PIMENTA

A ligação entre as cotas baixa e alta da cidade na zona é anterior ao séc. XV e as escadas, centenárias, eram a garantia de ligação à sinagoga

pa de arqueologia” contratada pela
empresa municipal Go Porto. É uma
“imposição legal da Direcção-Geral
de Património”, diz. Ou não estivés-
semos em território classiÆcado pela
UNESCO. A ligação entre as cotas bai-
xa e alta da cidade naquela zona é
anterior ao século XV e as escadas, já
centenárias, eram a garantia de liga-
ção à sinagoga judaica.
A obra de ligações mecanizadas
de Miragaia tem uma duração pre-
vista de seis meses e incluiu inter-
venções também nas escadas das
Sereias e na zona à volta das ruas de
Cidral de Cima e de Cidral de Baixo,
sendo o custo estimado da obra de
677 mil euros.

lo que se mostrou no concurso”, dis-
se. Assim está aÆxado no local da
obra, numa placa onde a Câmara do
Porto anuncia uma espécie de carti-
lha de objectivos: garantir mais mobi-
lidade entre as cotas alta e baixa da
cidade, modernizar e requaliÆcar o
espaço público e as zonas comuns e
preservar a identidade, enquanto
zona de interesse histórico.
O contexto “muito complicado”
daquele território íngreme implicou
que “as escadas fossem desmonta-
das”, explicou João Crisóstomo. “Mas
vão ser repostas”, garantiu, acrescen-
tando que tudo isso estava previsto
no projecto de execução. O PÚBLICO
pediu acesso a esse documento, mas
até agora não obteve resposta. De
acordo com o relatório da solução

Porto


Mariana Correia Pinto


[email protected]

construtivos simples e adequados à
topograÆa, sem alterar substancial-
mente a imagem da cidade” foi, aliás,
motivo de valorização do júri, lia-se
no relatório Ænal.
Desse momento até agora, garante
João Crisóstomo, nada de substancial
mudou. “O projecto, em termos de
imagem, é muito parecido com aqui-

Segundo o
projecto, as
escadas-rolantes
subirão a encosta
de Miragaia lado
a lado com as
escadas de pedra
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