Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

22 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


ECONOMIA


Rendas altas levam mais famílias


a não pagar crédito ao consumo


NUNO FERREIRA SANTOS

“Dramas financeiros que emanam da subida do valor das rendas das casas” têm levado a mais pedidos de ajuda, diz João Barbosa

O aumento acentuado das rendas nos
centros das cidades, mas também nas
periferias, estão levar mais famílias a
terem diÆculdade ou mesmo a falhar
o pagamento de empréstimos ao con-
sumo, muitos deles com taxas de juro
“muito agressivas”. Este diagnóstico
é feito por João Morais Barbosa, admi-
nistrador da Reorganiza, que aÆrma
que muitos pedidos de ajuda especia-
lizada para reestruturar dívidas Ænan-
ceiras chegam tarde de mais. E que
este serviço está pouco divulgado.
“Tem-se veriÆcado um aumento de
pedidos de apoio de situações de
maior fragilidade Ænanceira, com
incumprimento ou com dramas
Ænanceiros que emanam da subida
do valor das rendas das casas”, disse
João Barbosa ao PÚBLICO.
Em causa, explica, estão famílias
que residiam nos centros das cidades
e que não vêem os contratos renova-
dos, “o que as “obriga” a procurar
casa mais longe. “Esta situação leva a
que, mesmo fora dos grandes cen-
tros, os valores a pagar sejam mais
elevados e, ainda, que essa mudança
implique, com frequência, um
aumento de custos com transportes
ou outros”.
O administrador da Reorganiza,
intermediário de crédito autorizado
pelo Banco de Portugal (BdP), adian-
ta que “também estão a aumentar os
pedidos de ajuda de muitas famílias,
especialmente as mais carenciadas,
que já vivem nas periferias das gran-
des cidades, e que, por pressão da
procura, estão igualmente a sofrer
aumentos de rendas que não conse-
guem suportar”.
Apesar do crescimento dos pedidos
de ajuda por causa do aumento das
rendas, o maior número ainda está
associado a diÆculdades de pagar
empréstimos à habitação. Segundo
dados da empresa, “dos 600 a 700
pedidos de informação/contacto por
mês, cerca 40% diz respeito a crédito
habitação (novo ou em diÆculdades
de pagamento), 35% à consolidação
de créditos [habitação e consumo] e,
entre outros, 15% à renegociação de
situações já em incumprimento”.


concentrada num dos cônjuges e o
outro só se apercebe tarde de mais,
quando há penhoras do ordenado ou
de outros bens.
Ontem, o BdP avançou que o mon-
tante total dos novos créditos conce-
didos aos consumidores em Julho
aumentou 15,2% face a igual mês de
2018 e 21,5% face ao mês anterior,
atingindo 687,6 milhões de euros.
Em resposta a questões do PÚBLI-
CO, o administrador da Reorganiza
entende que a actividade de interme-
diação de crédito, recentemente
regulada e sujeita a autorização e
registo no BdP, deveria ser mais divul-
gada, porque “é um serviço de alto
valor acrescentado [através da pro-
cura de soluções de crédito ou de
regularização de dívidas] e, em mui-

tos casos, isento de custo, trazendo
inúmeras vantagens para os consu-
midores”. E reconhece que essa divul-
gação “é da responsabilidade dos
próprios intermediários, mas tam-
bém do supervisor”.
A Reorganiza, com actividade ain-
da na formação e nos seguros, é um
dos cerca de 4500 intermediários de
crédito registados no BdP. Tem acti-
vidade na apresentação ou proposta
de contratos de crédito a consumido-
res (habitação e consumo), na cate-
goria de vinculado —, tem contrato
com cerca de uma dezena de entida-
des bancárias, que lhe pagam. Nestes
casos, os particulares ou empresas
não pagam por serviços prestados.

Administrador da Reorganiza, um dos intermediários de crédito autorizados, destaca crescimento dos


pedidos de ajuda nos meses de Janeiro e Setembro, e alerta para os perigos da “inÄdelidade Änanceira”


[email protected]

Banca


Rosa Soares


e os descobertos associados às con-
tas-ordenado, que muitas vezes fazem
com que o consumidor comece o mês
já sem dinheiro na conta”, destaca o
administrador da Reorganiza.
Adianta também que, por pressão
destes créditos, “os meses com maior
procura de apoio são Janeiro, fruto
das resoluções de ano novo e do con-
sumo mais agressivo no Natal, e
Setembro, pelos gastos das férias e
início do ano escolar”.
A contratação de novos créditos ao
consumo para pagar anteriores é uma
situação comum, e é agravada, muitas
vezes, pelo facto de os problemas
Ænanceiros não serem discutidos den-
tro da família, sendo frequentes as
situações a que chama de “inÆdelida-
de Ænanceira”, em que a gestão está

Em média, o número de créditos
que as famílias apresentam varia mui-
to. No crédito à habitação é frequente
encontrar dois ou três tipos (emprés-
timo principal e conexos, como para
obras), e os consumidores apresen-
tam “maiores qualiÆcações e rendi-
mentos”, diz João Barbosa, acrescen-
tando que “no segmento de crédito
ao consumo, já chegam aos seis ou
sete [empréstimos], e as qualiÆcações
e rendimentos dos consumidores são,
habitualmente, mais baixos”.

Pior no pós-férias e Natal
Apesar do peso dos empréstimos à
habitação, “os créditos mais proble-
máticos são os cartões de crédito,
incluindo transferências de montan-
tes autorizados para contas à ordem,
Free download pdf