Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019 • 3
pensar na organização do calendário
é preciso “mudar o que se passa na
sala de aula”. “Mudámos as metodo-
logias, o currículo, no Ænal mudámos
a avaliação e, em consequência dis-
so, começámos a fazer uma avaliação
semestral”, conta o professor de
Sesimbra. “No 2.º e 3.º ciclo deixá-
mos de ter disciplinas”, em vez disso,
o horário é organizado em torno de
projectos, trabalhos individuais e
assembleias de turma.
Sobre como dar o salto para uma
organização diferente do ano lectivo,
Nuno Mantas explica que “o que
interessa é avaliar competências”.
“Como a avaliação normal era muito
focada em dar notas, eliminámos os
trimestres.” E até foram testadas
outras soluções: “No primeiro ano
do piloto Æzemos uma avaliação
anual”, lembra o professor. Mas
constatou-se que “só dar uma classi-
Æcação anual era pouco”, por isso,
passou-se ao semestre.
Básico inova mais
Na Escola Secundária da Ramada este
formato também já não será uma
novidade — à semelhança do que
acontece agora em Almada, no ano
passado, todas as escolas do concelho
de Odivelas adoptaram este sistema.
O director Edgar Oleiro garante que
o ano lectivo corre “mais fácil e tran-
quilo” e os professores “dão a matéria
sem grandes constrangimentos”.
Para o responsável, o sistema “não
tem desvantagens” e garante que
“pedagogicamente é indiscutível que
o semestre traz benefícios”.
E o que pensam os pais? Da parte
da Confederação das Associações de
Pais, Jorge Ascenção reconhece que
a experiência em Odivelas “correu
bem”. Admite que o que é necessário
é mudar o sistema de avaliação, algo
que necessita “de alteração na orga-
nização do ano lectivo e no modelo
de trabalho”. E pode passar pela divi-
são em semestres.
No ensino privado, também já há
quem opte por esta divisão do ano,
diz Rodrigo Queiroz e Melo, director
executivo da Associação de Estabele-
cimentos de Ensino Particular e Coo-
perativo. O que está acontecer é que
“muitas escolas mantêm administra-
tivamente os períodos, mas oferecem
as disciplinas em semestres”.
Contudo, o mais importante é pen-
sar as questões relacionadas com a
avaliação dos alunos. “Tem de se
mudar.”
A par destas inovações num núme-
ro restrito de escolas assistiu-se, no
ano passado, à generalização do pro-
jecto de autonomia e Çexibilidade
curricular — desde 2018, qualquer
escola pode gerir como quer até 25%
da carga lectiva semanal. Para já, não
se tem uma visão completa e global
sobre o que cada escola fez no âmbi-
to desses projectos. Porém, na
sequência de um questionário res-
pondido por 787 agrupamentos do
país conclui-se, por exemplo, que
em 181 desses se optou, no 5.º ano,
por leccionar a disciplina de Tecno-
logias da Informação e Comunicação
numa lógica semestral. E que em
cerca de 70, no 7.º ano, se optou por
oferecer História num semestre e
GeograÆa no outro.
Sobre o que foi colocado em práti-
ca no secundário pouco se sabe. Aria-
na Cosme, professora da Universida-
de do Porto e consultora do ME no
projecto da autonomia e Çexibilidade
curricular, diz que “quem está a
mexer na matriz curricular” são
sobretudo escolas do ensino básico,
menos pressionadas pelo “ónus dos
exames nacionais”. “Falamos de um
projecto inclusivo, diferenciado, que
encontra para cada aluno um cami-
nho próprio de governação e depois
aplica-se um exame nacional para
toda a gente.”
A “Çexibilidade curricular” corre
assim a diferentes velocidades. “Limi-
támo-nos a cumprir a carga horária
imposta na lei para cada disciplina”,
diz Ana Alves, adjunta da direcção na
Escola Secundária Clara de Resende,
no Porto — a segunda pública com
melhor média no ranking dos exa-
mes. “Fizemos o mínimo.” Porquê?
Segundo a docente não há coerência:
“Vamos Çexibilizar mas os alunos vão
ser sujeitos a exames nos mesmos
moldes.” Admite que “no básico é
mais fácil [aplicar estas medidas]”.
João Jaime, director da Escola
Secundária Camões, em Lisboa, par-
tilha a mesma posição: “Os exames e
o acesso ao ensino superior limitam”
a Çexibilização do currículo.
Em Coimbra, na pública com
melhores médias nos exames de 2018,
a secundária Infanta Dona Maria, a
posição da directora Cristina Ferrão
é outra. Os exames não são incompa-
tíveis com a Çexibilidade curricular.
“É, sim, uma maneira de cativar os
alunos.”
Mudámos as
metodologias,
o currículo, no
final mudámos
a avaliação e
depois começámos
a fazer uma
avaliação semestral
Nuno Mantas
Director escolar
[email protected]
DANIEL ROCHA
Setembro Outubro Novembro Dezembro Natal Janeiro Fevereiro CarnavalMarço Abril Páscoa Maio Junho
Início das aulas
Entre 10 e 13 de Set.
Fim
17 de Dez.
Início
6 de Jan.
Fim
27 de Mar.
Início
14 de Abr. 4 de Jun. 9 Jun. 19 de Jun.
2019 1.º PERÍODO 2020 2.º PERÍODO 3.º PERÍODO
18 Dez. a
3 Jan.
24 a 26
de Fev.
30 Mar.
a 13 Abr.
5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 10.º ano
Final das aulas
Pré -escolar e 1.º ciclo
9.º, 11.º e 12.º ano
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O que é a flexibilidade
curricular?
As escolas podem gerir até
25% da carga horária semanal
de modo a explorarem “formas
diferentes de organizar os
tempos escolares,
possibilitando trabalho
interdisciplinar,
desenvolvimento de projectos,
trabalho em equipa. O projecto
foi testado em 225 escolas e no
ano passado foi generalizado a
todas as que quiseram aderir.
O que muda para os alunos?
Cabe às escolas decidir.
Portanto, alunos em escolas
distintas podem ter
experiências diferentes.
Segundo o ministério, não está
em causa uma mudança de
conteúdos ou de disciplinas,
mas sim uma gestão diferente.
É possível, por exemplo,
conjugar disciplinas em áreas
disciplinares, em que dois ou
mais professores “trabalham
em equipa” na preparação das
aulas, que podem ser dadas à
vez por cada um ou em
conjunto. Ou alternar entre
tempos de estudos tradicionais
e semanas em que toda a
escola trabalha temas em
conjunto, por exemplo, “a
Europa” ou “a crise dos
refugiados”.
Mais de 25% de autonomia.
O que significa?
Por enquanto, só têm a
possibilidade de gerir mais do
que 25% da carga horária
semanal os agrupamentos que
apresentaram planos de
inovação, ou seja, iniciativas
que “exploram a criação de
matrizes curriculares mais
aprofundadas, a gestão
diferenciada de turmas,
adaptações ao calendário
escolar [por exemplo, a
organização do ano lectivo em
dois semestres em vez de três
períodos], a relação com
dimensões comunitárias e as
abordagens estruturadas para
alunos com mais dificuldades”.
tão do calendário que contrarie a
divisão em três períodos é Filinto
Lima, director da Associação Nacio-
nal de Directores de Agrupamentos e
Escolas Públicas. Segundo o respon-
sável, a organização em semestres
está a alastrar este ano e, “no próximo
ano lectivo, ainda haverá mais” esco-
las a aderir, assegura.
E acabar com as disciplinas?
A organização do ano lectivo em
semestres já tinha sido posta em prá-
tica nos sete agrupamentos que inte-
graram o Projecto-Piloto de Inovação
Pedagógica (PPIP) — que decorreu
entre 2017 e 2019 — e, no ano passado,
por todos os estabelecimentos esco-
lares do município de Odivelas.
O que diz quem já tem experiên-
cia? Para Nuno Mantas, director do
Agrupamento de Escolas da Boa
Água (que integra o PPIP), antes de