Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019 • 33
— de resto, documentadas numa fan-
zine colaborativa diária. Mas antes
dos concertos que fecham cada dia
de programação (e que, espelhando
a lógica inclusiva do MEXE, tanto
podem dar o palco ao Coro da Fun-
dação Manuel António da Mota como
ao Fado Bicha) e da parada Ænal que
reunirá todos os participantes no
último dia, o MEXE vai pôr a cidade
a mexer com um ciclo de documen-
tários, um encontro internacional de
reÇexão sobre práticas artísticas
comunitárias, que juntará mais de
cem investigadores e dezenas de
espectáculos, a maioria dos quais
gratuitos — entre eles, uma marcha
de mulheres grávidas liderada pela
italiana Caterina Moroni, uma
orquestra catalã de bolas de basque-
tebol, um mergulho nas memórias
dos habitantes das Fontainhas e um
solo sobre o abuso sexual de crianças
pelo tanzaniano Samwel Japhet.
Também lá de fora vêm as três pro-
duções que ocuparão o Teatro Carlos
Alberto: Empty the Space, da compa-
nhia ugandesa Kuenda Productions;
Synectikos, de um colectivo espa-
nhol, o Lisarco, aberto a portadores
de Síndrome de Down; e Isto É um
Negro?, dos E Quem É Gosta?, demo-
lidora exposição do racismo que
ainda estrutura o Brasil.
Tal como estes e outros artistas, os
espectadores não residentes no Por-
to não precisam de dar cabo da cabe-
ça à procura de lugar onde dormir:
uma das novas alíneas do festival, o
MEXE Casa, propõe “uma vivência
de proximidade”, que inclui aloja-
mento, alimentação e uma imersão
total no programa e na comunidade
que o organiza.
MEXE – Encontro Internacional
de Arte e Comunidade
Porto; 16 a 22 de Setembro
[email protected]
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Punk e house, Joana Gama,
Vítor Rua e Sensible Soccers
São 15 anos, mais tempo do que talvez
se esperasse de um pequeno festival
independente e intergéneros sediado
em Vila do Conde e focado na criação
de matriz experimental e na vontade
de tirar da sombra os processos de
trabalho dos artistas. Do que Æcou
para trás dará conta a exposição De
Volta. 15 Anos de Circular, com cura-
doria de Susana Medina, que abre
esta edição, juntamente com #PUNK,
a provocadora performance-concer-
to em que a zimbabweana Nora Chi-
paumire digere as inÇuências que a
alimentaram nos seus anos de cresci-
mento, com Patti Smith à cabeça.
Sem fazer disso uma obsessão, o 15.º
Circular tem na música uma espécie
de leitmotiv: começa com a energia
empoderadora do punk, acaba com a
hipnose da house, que a grega Kateri-
na Andreou trabalha no espectáculo
de encerramento, o solo BSTRD. Pelo
meio, haverá um concerto festivo dos
Sensible Soccers e Home Sweet Sound,
o encontro entre Vítor Rua e a impará-
vel Joana Gama — que também levará
a Vila do Conde o seu concerto infantil
Eu Gosto Muito do Senhor Satie.
No capítulo das estreias absolutas,
o Circular tirará este ano da cartola I
Know it When I See It, co-criação de
Luísa Saraiva e Carlos Azeredo Mes-
quita, Ma Vie Va Changer, de Nuno
Lucas, e Abrupta, em que Filipe Cal-
deira volta a juntar-se a Catarina Gon-
çalves. Fora do palco, o programa
completa-se com lançamentos (o pri-
meiro número do jornal Coreia, pro-
jecto de João dos Santos Martins; e o
20.º da Flanzine, de João Pedro Azul,
em que 70 artistas tratam o tema do
corpo), cinema (NoirBLUE, da coreó-
grafa brasileira Ana Pi) e um seminá-
rio em torno da crítica de arte condu-
zido pelo crítico e colunista do PÚBLI-
CO António Guerreiro.
Circular — Festival de Artes
Performativas
Vila do Conde; 19 a 23
de Setembro
Migrantes e um “Leão
de Ouro” no Cartaxo
À 10.ª edição, o Festival Materiais
Diversos está sedimentado enquanto
referência das artes performativas
portuguesas, no seu modelo muito
especial de encontro com as comuni-
dades de Minde, Cartaxo e Alcanena.
Entre 27 de Setembro e 5 de Outubro,
serão 150 os artistas que protagoniza-
rão 17 espectáculos, uma exposição,
debates e concertos. A abertura cabe-
rá à libanesa Tania El Khoury e à sua
performance As Far as My Fingertips
Take Me (entre 27 e 29 de Setembro
no Museu de Aguarela Roque Gamei-
ro, em Minde). Com uma obra forte-
mente política, El Khoury parte das
impressões digitais que compõem
uma base de dados que rastreia os
refugiados e migrantes na Europa,
propondo um encontro entre público
e performer através de uma parede,
sem que os seus olhares se cruzem.
Também em Minde (28 e 29), Lígia
Soares apresentará Jogo de Lençóis,
performance construída a partir dos
depoimentos das pessoas que nas
várias edições do festival acolheram
em sua casa artistas e equipas técni-
cas. De regresso ao Materiais Diver-
sos, o Teatro do Vestido leva até Alca-
nena (28 e 29) a sua Viagem a Portu-
gal, um “espectáculo-percurso” de
Joana Craveiro radicado nas memó-
rias dos lugares e daqueles que os
habitam. Ainda em Alcanena (27 e
28), Paula Diogo e Alex Cassal enchem
as bocas com “línguas minoritárias
portuguesas” a caminho da extinção
— e que, ao desaparecerem, levarão
consigo histórias e identidades — no
espectáculo A Menor Língua do Mun-
do. O programa de dança tem peças
de David Marques (Ministério da Cul-
tura), Filipa Francisco (Partilhas/
Exchanges) e Ana Rita Teodoro (FoFo)
que, no último dia do festival, mos-
trará ao Cartaxo a sua reÇexão coreo-
gráÆca sobre “a estética do fofo”.
O encerramento do festival far-se-á
ainda com o “Leão de Ouro” da Bienal
de Veneza Alessandro Sciarroni, que
transplanta para o Cartaxo uma peça
em torno da ideia de “girar”, Don’t Be
Frightened of Turning the Page. As
visitas internacionais completam-se
com Pleasant Island, de Silke Huys-
mans e Hannes Dereere (4 de Outu-
bro, no Cartaxo), em torno da ilha de
Nauru, que foi um dos países mais
ricos do mundo e é hoje um dos paí-
ses mais pobres do mundo.
Materiais Diversos
Minde, Cartaxo e Alcanena;
27 de Setembro a 5 de Outubro
Pela estrada fora... algarvia
Com direcção de Ana Borralho e João
Galante, a nona edição do festival
Verão Azul voltará a levar à região
algarvia um programa transdiscipli-
nar que, desta vez, terá por mote
“Pela Estrada Fora”, em alusão ao
romance de Jack Kerouac. As 21 pro-
postas de teatro, dança, música, per-
formance, artes visuais, cinema e
peças infantis circularão pelo Algarve
de 17 de Outubro a 2 de Novembro. O
desaÆo lançado a criadores nacionais
e internacionais é que pensem o con-
ceito do Antropoceno, reÇectindo
acerca do impacto das acções huma-
nas no seu habitat.
O Verão Azul arranca com os belgas
Silke Huysmans e Hannes Dereere —
os mesmos que, pouco antes, passam
pelo Materiais Diversos —, na estreia
nacional de Mining Stories, a 17 de
Outubro, no Cine-Teatro Louletano.
É uma peça de teatro documental
centrada no desastre ambiental ocor-
rido em Novembro de 2015, no estado
brasileiro de Minas Gerais, quando
uma barragem cedeu e espalhou des-
perdícios tóxicos da actividade minei-
ra por várias povoações da região.
A proximidade com o Materiais
Diversos garante também a presença
do italiano Alessandro Sciarroni, com
o mesmo Don’t Be Frightened of Tur-
ning the Page, peça inspirada pelos
Çuxos migratórios dos animais (Tea-
tro das Figuras, em Faro, a 26 de
Outubro). O festival recebe ainda duas
estreias mundiais: a performance In
Between, da polaca Paulina Sz (17 de
Outubro, em Loulé), e a co-criação de
Sílvia Real e Francisco Camacho para
adolescentes e crianças, A Laura
Quer! (27 de Outubro, em Loulé).
Depois da estreia no Teatro D.
Maria II, também Raquel André ruma-
rá a Loulé para mostrar a sua Colecção
de Artistas (19 de Outubro), enquanto
a 24, em Faro, terá lugar o concerto-
performance Storm Atlas, da compa-
nhia italiana Dewey Dell. A música
marcará presença também pela mão
do provocador do Çamenco Niño de
Elche (18 de Outubro, Faro) e por Tó
Trips e Tiago Gomes, responsáveis
pelo espectáculo On the Road, basea-
do no livro de Kerouac, que porá Æm
ao Verão Azul a 2 de Novembro, no
Centro Cultural de Lagos.
Festival Verão Azul
Loulé, Faro, Quarteira e Lagos;
17 de Outubro a 2 de Novembro
Da esquerda para a direita:
Isto É um Negro?, produção brasileira no MEXE; #PUNK,
uma performance-concerto de Nora Chipaumire, do
Zimbabwe; Das Cinzas, que abre o Manobras; e o “Leão
de Ouro” de Veneza Alessandro Sciarroni, presente
nos festivais Materiais Diversos e Verão Azul