Público - 09.09.2019

(Ron) #1
36 • Público • Segunda-feira, 9 de Setembro de 2019

CIÊNCIA


Os polvos são cefalópodes que enganam os predadores (e as


presas) por serem mestres da camuÅagem e se adaptarem tão


bem a vários ambientes. Por que razão têm uma inteligência


que se destaca tanto das espécies que lhes são próximas?


N


ão há ninguém que
tenha acompanhado
o Mundial de Futebol
de 2010, na África do
Sul, de forma mais ou
menos atenta que
não se lembre do pol-
vo Paul, o molusco
alemão que “adivi-
nhava” os resultados
de alguns jogos. Na altura e antes dos
jogos, Paul era confrontado com
duas caixas com mexilhões, um dos
alimentos preferidos da espécie:
uma tinha a bandeira alemã estam-
pada e outra a bandeira da selecção
adversária. A caixa escolhida pelo

polvo para se alimentar era interpre-
tada como uma previsão do vence-
dor da partida.
Paul chegou a “prever” a vitória da
Espanha na Ænal do Mundial, acertan-
do o resultado de nove jogos, e os
seus palpites foram transmitidos em
mais de 20 estações de televisão de
todo o mundo. O sucesso destas “pre-
visões” foi tal que a partir desse ano
o mundo em geral (porque a comuni-
dade cientíÆca já lá tinha chegado
antes) começou a estar mais atento às
capacidades cognitivas daquela espé-
cie e a querer perceber o porquê dos
polvos terem uma inteligência fora do
normal para um ser invertebrado.
No caso de Paul, como explica
Eduardo Sampaio, biólogo da Facul-
dade de Ciências da Universidade de

Sofia Neves


Os polvos


são muito


inteligentes


É aceitável


comê-los?


Lisboa (FCUL), o treinador tinha um
palpite de quem ia ganhar e depois
habituava-o a ir para a caixa onde
estivesse representada essa equipa.
“Apesar de ele não adivinhar o resul-
tado do jogo, o feito continua a ser
notável porque demonstra que é pos-
sível treinar um polvo para executar
certas tarefas e é mais uma prova da
sua inteligência”, explica o biólogo.
O polvo evoluiu separadamente
dos vertebrados durante 600 milhões
de anos e é como uma amêijoa que
perdeu a concha. A sua inteligência é
notável, havendo mesmo quem lhes
chame o “vertebrado dos invertebra-
dos”. Há cerca de 300 espécies iden-
tiÆcadas deste ser marinho.
Nos últimos anos, a equipa em que
Eduardo Sampaio está integrado,
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