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CAPA | TECNOLOGIA
“NÓS NUNCA
SEREMOS PERFEITOS”
Nascido em Hyderabad, uma das cida-
des mais populosas da Índia, Satya
Nadella mudou-se para os Estados Uni-
dos no fim dos anos 80 para fazer mes-
trado em ciência da computação. Co-
meçou a trabalhar na Microsoft em
1992, numa época em que seu principal
produto era o Windows 3.1. Hoje, aos 51
anos, o executivo lidera uma empresa
com quase 135000 funcionários e fa-
turamento de 110 bilhões de dólares por
ano. Em uma viagem recente a São
Paulo, Nadella falou com exclusividade
a EXAME sobre as mudanças na Micro-
soft, o futuro da tecnologia e a nova
mentalidade, mais humilde, que a em-
presa diz ter passado a adotar. “A ilusão
de que o sucesso dura para sempre é
algo que queremos expurgar de nossa
consciência”, diz Nadella. A seguir, os
principais trechos da conversa.
Muito se fala sobre a mudança de
cultura da Microsoft promovida em
sua gestão. O que constitui a cultura
de uma empresa em sua opinião?
Em primeiro lugar, é preciso dizer que
eu cresci dentro da Microsoft. Este já
é o meu 29o ano na empresa. Sou um
insider consumado. Quando assumi a
presidência da Microsoft, senti que era
importante buscarmos nosso senso de
propósito. A cultura é o que nos per-
mite fortificar o senso de propósito. E
opropósito da Microsoft é algo que
estava em suas origens, quando Paul
Allen e Bill Gates construíram os pri-
meiros produtos para o computador
Altair em 1975. Aqui estamos agora
em 2019. Eu acredito que, se nós cons-
truirmos as ferramentas tecnológicas
para ajudar os outros a criar mais tec-
nologias, então teremos encontrado
nosso propósito, nossa missão.
Como isso se reflete na prática?
Dou um exemplo. Nossa presença no
Brasil não deve ser medida pelas tec-
nologias que trazemos para cá, mas,
mais importante do que isso, pelas tec-
nologias criadas no Brasil usando nos-
sas ferramentas. Em vez de ficar com
inveja de outras empresas, devemos
ter orgulho do que conseguimos pro-
duzir de forma original.
Por que a Microsoft precisava
recuperar seu sentido de propósito?
Gosto de estudar o que faz as institui-
ções durar no tempo. E, toda vez que
penso sobre isso, vejo que as empresas
mais duradouras têm a capacidade de
manter seus valores e, ao mesmo tem-
po, questionar o statu quo. A habilidade
de fazer essas duas coisas é o que cons-
trói a força de uma instituição.
O senhor já conseguiu realizar
todas as mudanças que desejava?
A última coisa que quero é criar a ideia
de uma espécie de destino que a Mi-
crosoft deve alcançar. Deve haver um
processo contínuo de renovação. Se
não criarmos esse método constante,
nenhuma transformação na empresa
vai durar. Podemos ter realizado algo
até aqui, mas tudo pode ir por água
abaixo se encararmos as conquistas
como um destino já alcançado.
O que ainda precisa ser mudado?
Todos os erros que cometemos ontem
precisam mudar hoje. E todos os erros
que cometermos hoje precisarão mu-
Em entrevista exclusiva a EXAME, Satya Nadella fala
sobre a importância de uma mentalidade mais humilde
para o sucesso da Microsoft FILIPE SERRANO
dar amanhã. Nós nunca seremos perfei-
tos. A ilusão de que o sucesso dura para
sempre é algo que nós queremos expur-
gar de nossa consciência. Porque é aí que
a arrogância acaba se instalando. Quan-
do começarmos a achar que somos bons
demais, perderemos o contato com as
características que nos tornaram bons
em primeiro lugar. Coisas como humil-
dade, muita curiosidade, muita sorte e
muito trabalho duro.
Como vê a empresa em cinco ou dez
anos? É possível manter a liderança
num setor que muda constantemente?
Cada país, cada setor da economia, cada
momento de nossa vida serão cada vez
GERMANO LÜDERS