6 de março de 2019 | 33
mais simples, pois são necessários três
quintos dos votos dos Congressistas: 308
deputados e 49 senadores. Uma compara-
ção entre a reforma pretendida por FHC e
a concretizada por Lula evidencia o desa-
fio. Enquanto o tucano amealhou apenas
45% dos votos fora de sua base, o petista
conseguiu 72% dos deputados da oposi-
ção. O governo Bolsonaro afirma já ter 200
votos a favor, mas observadores acham
improvável esse número, por ora. As men-
sagens pouco amistosas do presidente e
de aliados para a oposição, tanto por meio
da imprensa quanto pelas redes sociais,
devem diminuir consideravelmente o po-
tencial de crescimento nessa base. Hoje,
PT e PSOL somam 66 deputados e já se
declaram contra a reforma — qualquer
versão dela. A oposição que pode render
votos a favor está concentrada em partidos
como o PDT e o PSB. Eles somam 60 de-
putados. Uma das saídas para conseguir
esse apoio foi a possibilidade levantada
pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), de dar a presidência da comis-
são especial que analisará a proposta do
governo ao deputado federal Mauro Bene-
vides (PDT-CE). “Nós sabemos da neces-
sidade de resolver o problema, mas é ne-
cessária uma discussão intensa para che-
gar a uma solução realmente boa para o
país nessa área”, afirma Benevides.
Apesar de ser baixo o risco de uma não
aprovação, já se discutem as repercussões
de uma reforma insuficiente, capaz de
atrasar a recuperação econômica e de dei-
xar um legado complicado para os próxi-
mos presidentes. A França é um exemplo
disso. Desde 2010, o país europeu fez duas
reformas da Previdência: uma no manda-
to de Nicolas Sarkozy, ligado à direita, e
outra com o socialista François Hollande.
Como ambas foram insuficientes, a França
está a caminho da terceira, agora com o
centrista Emmanuel Macron. No Brasil, o
tempo é escasso. Nas contas mais otimis-
tas, as primeiras votações em plenário da
reforma devem acontecer no primeiro se-
mestre deste ano. Depois disso, a batalha
vai para o Senado, onde a base do governo
é ainda menos consolidada. Dificilmente
oresultado sairá antes dos últimos meses
do ano. A melhoria da economia depende,
e muito, de que as estratégias do governo
tenham sucesso no Congresso. Q
uma medida provisória, sancionou a fór-
mula de pontos 85/95, que soma idade com
tempo de contribuição, para atrasar a apo-
sentadoria dos mais velhos. Já Michel Te-
mer tentou fazer uma reforma mais ampla,
que estabeleceria idade mínima de apo-
sentadoria a todos os brasileiros. Foi atra-
palhado pelo vazamento de gravações
pouco republicanas ao lado do empresário
Joesley Batista, dono do frigorífico JBS.
Na comparação dos resultados das re-
formas passadas, nota-se que a força da
oposição pode ser um obstáculo. Afinal, a
missão de aprovar uma reforma não é das
DE ONDE VEM A ECONOMIA
O governo estima que o ganho fiscal da
reforma proposta poderia superar 1 trilhão
de reais em dez anos. O projeto, no entanto,
deve sofrer desidratações e encolher
Reforma do funcionalismo público
34
174
Alteração nas alíquotas do INSS
-10
-28
Mudanças nas alíquotas do funcionalismo da União
14
29
Assistência social e focalização do abono (BPC)
41
182
Reforma das Forças Armadas(1)
28
92
(1) O projeto deve ser enviado ao Congresso em março
Fontes: Ministério da Defesa, Ministério da Economia e Itaú
De 300 bilhões a 600 bilhões de reais
é a estimativa de especialistas para a perda
em relação à meta inicial do projeto,
que pode ocorrer com a alteração de pontos
como o aumento do período de contribuição
e a ampliação do tempo de transição
Reforma do INSS
82
715
Total 189 bilhões Total 1,16 trilhão
Impacto que cada item pode ter na reforma
(em bilhões de reais) 2023 2029