Exame - Edição 1180 (2019-03-06)

(Antfer) #1
6 de março de 2019 | 35

Shopping
em São Paulo:
o ânimo dos
empresários
voltou no
começo do
ano passado

gulhou em uma recessão profunda, com-
prometendo o desempenho da indústria
automotiva — os hermanos compram a
maioria dos veículos que exportamos. A
produtividade costuma cair em Copas
do Mundo e por aí vai. Eventos como
esses atrapalham, mas a razão funda-
mental por trás da lerdeza econômica é
a falta de confiança dos agentes. O hu-
mor das famílias e dos empresários, em
média, apresentou melhora de meados
de 2016 ao início do ano passado. Dizia-
-se que a sociedade havia amadurecido
e que um retorno à insensatez seria im-
pensável. O candidato preferido do mer-
cado venceria a eleição com facilidade,
e a partir daí seria só alegria. Esse cená-
rio róseo não comemorou a Páscoa. A


eleição migrou para os extremos, a cau-
tela e o pessimismo voltaram e a econo-
mia entrou novamente em modo de es-
pera, de onde não saiu até agora.
A vitória coube a um candidato polê-
mico, inovador em vários aspectos, mas
que, felizmente, promete dar continui-
dade às terapias convencionais do ex-
-presidente Michel Temer em matéria de
economia. Como não poderia deixar de
ser, o alívio de ter escapado por um triz
de um retrocesso à visão de mundo que
causou a crise foi acompanhado de recu-
peração da confiança. De fato, os indica-
dores disponíveis sugerem que o ânimo
voltou a ser o que era no início do ano
passado. A pergunta que não quer calar
é saber por que a recuperação paulatina

RUBENS CAVALLARI/FOLHAPRESS

da confiança desde o desfecho das elei-
ções não tem sido acompanhada de reto-
mada da economia brasileira?
Talvez seja apenas uma questão de
tempo, vai saber? Se não for, uma hipó-
tese alternativa é que, apesar da melhora
da confiança apoiada em uma crença de
que as coisas se ajeitarão, prevalece ainda
um ambiente de grande incerteza. O fu-
turo deve ser bom, mas tudo pode acon-
tecer. O busílis é que confiar diante de
grande incerteza equivale a agir como
torcedor, não como analista. Se for assim,
a melhora do sentimento registrada nas
pesquisas com consumidores e empresá-
rios pode não se materializar com a mes-
ma força observada em outros ciclos.

A Fundação Getulio Vargas computa
mensalmente um indicador que procura
medir a incerteza existente na econo-
mia. Refiro-me ao Índice de Incerteza
Econômica – Brasil, doravante apenas
“incerteza”. Nos períodos de calmaria, o
barômetro oscila entre 90 e 100, como
entre 2004 e meados de 2008. As fases
turbulentas são associadas a leituras
acima de 100. No rebuliço que antecedeu
as eleições de 2002 e no início da crise
financeira de 2008, a incerteza chegou
a ultrapassar 130. Existe alguma coerên-
cia entre os indicadores de confiança e
de incerteza, mas ela está muito longe
de ser perfeita, sugerindo que os índices
medem de fato coisas distintas. Em par-
ticular, é interessante observar que o

O CICLO DE


RETOMADA


DA CONFIANÇA


DE 2016 PARA


CÁ NÃO FOI


ACOMPANHADO


DE REDUÇÃO


DA INCERTEZA

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