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SETE
PERGUNTAS
PARA JORGE ARDUH
O termo “cidade inteligente” está longe de ser novo. Mas o con-
ceito de metrópole conectada ainda esbarra em limitações para
decolar. Na liderança da consultoria de tecnologia espanhola
Indra no Brasil desde 2015, o argentino Jorge Arduh conversou
com EXAME sobre as dificuldades para a implementação das
soluções desse tipo, as perspectivas em torno do conceito e a
relação dele com novas tecnologias e legislações.
Apesar dos avanços ao redor do mundo, as cidades inteligentes
ainda não parecem ter se disseminado. Por que a demora?
As tecnologias se desenvolvem de acordo com as necessidades
das pessoas. Mas há casos em que a necessidade é maior do que
a capacidade de desenvolvimento tecnológico. A história das
cidades inteligentes é assim. Deseja-se criar uma solução que
centralize e resolva as necessidades de um cidadão com o uso
de tecnologia. Mas a ideia esbarra na implementação.
Por que é tão difícil colocar em prática essas soluções?
É preciso lidar com muitos dados e com a integração de sistemas.
Além disso, cada cidade tem um tamanho e um nível tecnoló-
gico diferentes. Umas cresceram com um planejamento adequa-
do. Outras, não. Pense em São Paulo e em seus muitos hospitais
públicos. Eles se desenvolveram separadamente, com sistemas
diferentes e dados guardados de formas distintas.
É possível criar tecnologias capazes de contornar essas
dificuldades com o uso de sistemas diferentes?
Sim, e elas existem. Uma equipe nossa, de saúde, desenvolveu
um modelo para acelerar a implantação de soluções inteligentes
em hospitais. É uma estrutura que interage com sistemas dis-
tintos e permite a interoperabilidade. O modelo digital da Estô-
nia, outro que integra sistemas, também é aberto e pode ser
adotado por qualquer um. A implantação depende do nível de
desenvolvimento de cada município, claro. Mas acredito que
essa integração facilite o avanço das cidades inteligentes.
Quais outros países têm boas experiências nesse campo?
A Espanha é um exemplo. A região da Andaluzia já usa um sis-
tema de saúde inteligente. As informações dos pacientes são
centralizadas e todos os cidadãos têm um registro eletrônico.
Isso praticamente eliminou as filas e reduziu o tempo de aten-
dimento em clínicas e hospitais.
Qual é o papel da tecnologia 5G na área de cidades inteligentes?
O 5G deverá ser útil para dar conta da quantidade cada vez maior
de dados trafegados. Acredito até que ele fará as operadoras de
telecomunicações mudar de vez o foco, voltando a atenção para
a oferta de serviços além de telefonia e dados.
Nesse contexto, onde entram as mais recentes legislações
de proteção de dados, como a lei geral brasileira, aprovada
em agosto do ano passado, e a europeia?
Essas leis são importantes porque nós estamos entrando na era
da tecnologia cognitiva, que depende de cada vez mais dados.
À medida que essas inovações avançam, torna-se cada vez mais
necessário manter as informações delas protegidas. Mas, claro,
será preciso regulá-las e fazê-las valer.
Sobre a lei local, o senhor tem acompanhado a preparação
das empresas e dos setores do governo no Brasil. Como estão?
As empresas estão atentas e preocupadas. Temos recebido mui-
ta demanda delas, porque lidamos com isso na Espanha, por
causa da lei europeia. Os setores do governo também estão cien-
tes dos processos que têm de ser feitos. Q
Para o presidente da consultoria espanhola Indra no
Brasil, as tecnologias para tornar as cidades inteligentes
ainda esbarram nas dificuldades de implementação.
Mas é possível contorná-las GUSTAVO GUSMÃO
O desafio de
conectar as cidades
DIVULGAÇÃO
Jorge Arduh, da Indra: poucas cidades estão preparadas para mudar