A declaração do l' Secretário da Embaixada do Brasil em Lisboa, Claudio Lyra, define bem essa
grosseira hostilidade: "Aceitamo-los porque o governo português nos pediu, mas não o fazemos com
satisfação."'
Referia-se o secretário ao asilo concedido aos dois insignes lusitanos - almirante Américo
Thomaz, ex-presidente de Portugal, e dr. Marcelo Caetano, primeiroministro do governo deposto -
que estavam detidos em Funchal, na Ilha da Madeira, desde o golpe de 25 de abril de 1974. O
almirante Thomaz fazia-se acompanhar de suas esposa e filha.
Esta declaração não teria sido dada sem autorização do Itamaraty e, se por acaso o foi, não
houve o desmentido que se impunha.
Anos atrás, esses notáveis estadistas já aqui tinham estado. Marcelo Caetano, com honras de
chefe de Estado, visitou-nos em 1971.0 almirante Thomaz, como presidente de Portugal,
acompanhou, por ocasião das comemorações do sesquicentenário de nossa independência, os restos
mortais do nosso primeiro imperador que, por inequívoca manifestação de apreço aos brasileiros,
foram transladados para o Brasil.
Se o governo brasileiro, na sua obsessiva marcha para a esquerda, pretendia adular os
comunistas portugueses, procurasse outras razões, outros setores em que pudesse manifestar com
desassombro, publicamente, seus pendores para a doutrina pregada por Álvaro Cunhal - o chefe
vermelho do moderno Portugal -, dando desse modo uma prova de coragem.
Mas ser forte contra o fraco, humilhar com palavras mesquinhas dois homens eminentes,
esmagados pelo destino sem possibilidades de reação, é o antipodismo da coragem.
Moralmente, aquele que é persistentemente forte com os mais fracos é, também,
perseverantemente fraco com os mais fortes.
Eram os frutos do pragmatismo... O Brasil, na hipótese de conceder asilo aos homens do governo
deposto, temia fossem afetadas suas relações comerciais com os países da África negra e com os
Estados árabes, estes, naquela época, muito ligados ao mundo subdesenvolvido do continente
africano.