IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

livres não eram praticadas, "servindo, ao invés, aos apetites e ao poderio de poucos, em detrimento
dos verdadeiros interesses da Nação, que se debatia na pobreza e na desordem, porque aquelas
disposições estavam divorciadas da realidade".


O povo e a Nação são condimentos indispensáveis nestas peças demagógicas, porquanto dão-
lhes um sabor de sinceridade, patriotismo e sentimento humano, representando ainda com perfeição o
conhecido papel da esponja de platina nas reações químicas. Sua citação ou presença ali é, apenas,
catalítica - sai incólume, sem melhorar ou piorar. A realidade, a que se referiu o presidente, não foi
compreendida até hoje; ela continua a ser ajuizada de modo errôneo pelos analistas da conjuntura
nacional. Sua exegese é variável conforme a seleção e prioridade dos fatores que a justificam, os
quais por sua vez estão vinculados à subjetividade. Cada um a encara sob um prisma diferente, mais
agradável às suas tendências e qualidades espirituais.


Esta contramarcha no pensamento político do governo - considerada por muitos como um recuo
estratégico, sugerindo o intuito da sua retomada em momento oportuno - nada mais é, no entanto, do
que o resultado do choque da lei com a realidade.


Enquanto não forem eliminadas as causas que proporcionam estes embates, antes que sejam
criadas condições que permitam a geral compreensão de que o ampliar ou o restringir das liberdades



  • quaisquer que sejam - dependem, exclusivamente, da capacidade de exercê-las e não de formas
    espúrias de mando, serão pueris e fadadas ao fracasso todas as tentativas nesse sentido. O governo
    recuou em seus propósitos de DISTENSÃO e recuará sempre, desde que os caminhos a percorrer
    não estejam aplainados das resistências conjunturais. Em cada recuo, porém, terá que enfrentar novas
    reações, maiores do que as do recuo anterior. Ao contrário, se persistir sem a satisfação dessas
    condições, poderá defrontar-se com agitações sociais imprevisíveis.


Foi, infelizmente, o que vimos nas gestões de Castelo Branco e Costa e Silva. O primeiro
governo revolucionário agasalhou a esperança de restabelecer a democracia em 1965, mas atolou-se
no lamaçal - ainda não drenado - das políticas e administração passadas, do qual só conseguiu sair
através de caminhos da excepcionalidade. Obstina-se entretanto em achar oportuno o retorno à
democracia plena, esquecendo-se que, ao justificar o Ato Institucional n° 2, apresenta o argumento de
que "agitadores de vários matizes e elementos da situação eliminada ... já ameaçam e desafiam a
ordem revolucionária".


Costa e Silva recebeu a Constituição de janeiro de 1967 elaborada em moldes democráticos,
despida de medidas excepcionais, e reforçou seus intuitos de liberdades amplas, já manifestados
antes de sua posse e depois em outras oportunidades. Pelas brechas desta ABERTURA penetraram
os subversivos e terroristas, atingindo as agitações e intranqüilidade pública níveis iguais, se não
superiores, aos de 1964. O Ato Institucional n° 5, em 13 de dezembro de 1968, muito mais drástico
do que os Atos anteriores, ao conter a subversão aniquila, todavia, com as reivindicações da volta
imediata à democracia em sua plenitude.


O presidente Médici não se mostrou inclinado ao pronto restabelecimento da normalidade
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