IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

democrática, contudo fez sentir a vontade de atingi-la, ao término de seu governo. Admitiu, pela
visão que tinha do quadro de segurança nacional, como prematura a revogação do Ato Institucional
n° 5, já integrado à Constituição de 1967.


Era também esta, em 1974, a impressão reinante nos meios militares e governamentais - o Ato
Institucional n° 5 deveria ser mantido por mais algum tempo.


Em julho em 1973, quando decidiu o presidente Médici indicar o general Ernesto Geisel seu
sucessor, fez ouvir, por intermédio de seu Ministro do Exército, os generais. Comandava eu o 1
Exército e fui chamado pelo general Orlando Geisel, que, satisfeito com a escolha, expôs-me os
motivos da audiência. Contou-me naquela oportunidade - e disto estou bem lembrado - que o general
Ernesto Geisel, ao aceitar o convite do general Médici para substituí-lo na Presidência, perguntara-
lhe:



  • Mas... você não vai me tirar o AI-5?


Respondeu o presidente Médici que não faria isso.

Como mostram os fatos, o presidente Geisel, em meados do ano de 1973, era favorável à
manutenção do AI-5 e, coerente com este ponto de vista, usou-o prodigamente, embora nem sempre o
tenha feito em proveito do regime.


Muitos revolucionários, por conseguinte, acharam enigmáticas suas declarações de março e
agosto de 1974. Atribuíram-nas alguns a fictícias promessas que sabia não poderiam ser cumpridas
mas capazes de acalentar, por meses, a ansiedade pública. Outros, chegados a maledicência,
traduziam-nas como um inacreditável desconhecimento da situação interna.


Surgia, ainda, uma terceira explicação. Admitia-se a intenção de colocar as medidas
excepcionais no corpo da Constituição, sob rótulos novos, mas sem modificar-lhes a essência e os
efeitos. Praticar-se-ia, assim, um verdadeiro transplante revolucionário - da excepcionalidade para a
legalidade - cuja técnica de implantação, a cargo da imaginação política criadora, impediria as
rejeições.


Desconheço os motivos que levaram o presidente Geisel a abandonar seus propósitos, contudo
ouso imputar às reações conjunturais a sua mudança de atitude naquela ocasião. Entretanto, a julgar
pelo que ocorreu em setembro de 1978, é fácil eleger essa última hipótese como a manobra política
predileta do presidente.

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