Desejo esclarecer, por oportuno, uma quase polêmica que se travou a respeito da necessidade de
manter a engenharia do Exército em tarefas de construção de estradas.
O Presidente da República, logo no início de minha administração, insistia bastante na contenção
de despesas e na eliminação das atividades supérfluas e daquelas que, com o tempo, assim se
tornassem. Em tese não divergíamos. Entre as primeiras colocava o Serviço Veterinário do Exército,
que, com o advento da motomecanização do Exército, perdia a razão básica de sua existência. Incluía
os batalhões de Engenharia de Construção no grupo das que, gradativamente, deveriam ser extintas.
Argumentava que a engenharia civil já possuía condições para realizar, no país, as construções de
estradas e, ainda, que a fase de pioneirismo já estava ultrapassada. Deste modo, ao terminarem as
missões que tinham, deveriam ser extintos aqueles batalhões, aproveitando-se seus efetivos para
organização de outras unidades.
Quanto à engenharia não discordava, integralmente, do raciocínio do presidente. Não duvidava,
também, do grande valor técnico da competente engenharia civil, consagrada em magníficas
realizações no Brasil e no exterior. Admitia, contudo, que os custos das obras seriam,
consideravelmente, maiores, quando as medidas preconizadas visavam à redução de despesas. Tudo
isto parecia-me paradoxal e turbilhonava as idéias no encadeamento de um raciocínio lógico. Do
ponto de vista do Exército, julgava vantajosa uma redução de Engenharia de Construção em proveito
da Engenharia de Combate, embora não estivesse a Engenharia de Construção, na Amazônia,
alienada de sua atividade fim, pois a construção era exatamente um meio de exercitá-la em sua
missão específica. No quadro geral cabia ao presidente decidir.
Ouvi, na oportunidade, o Ministro dos Transportes, general Dyrceu Nogueira, conhecedor
profundo da questão. Tomou uma posição moderada. Deveria a Engenharia de Construção ser extinta,
porém vagarosamente, não devendo ser de imediato.
Dei ordem ao Chefe do EME que realizasse estudos sobre o assunto e iniciasse planejamento
com objetivo de desaferrar, gradativamente, a Engenharia dos encargos de construção.
O Chefe do Departamento de Engenharia e Comunicações, é de justiça se diga, bateu-se
ardorosamente no sentido de modificar esta orientação, julgada por ele prematura.
Minha visita ao Comando Militar da Amazônia convenceu-me, à saciedade, de que a Engenharia
de Construção, na Amazônia e mesmo no Nordeste, é, ainda, e o será por muitos anos, insubstituível,
porque sua missão, como a de todas as tropas ali instaladas, não é somente técnica e de segurança,
mas, acima de tudo, cívica e de integração nacional. Ela espraia, pelos igarapés sinuosos, matas
densas, várzeas alagadas e campinas do norte, o sentimento de brasilidade e a afirmação de posse.
Não a seduz interesse comercial, guiando-a, unicamente, o dever. Esta impressão levou-me a
postergar a aplicação dos planos de extinção e o EME parece ter compreendido não ser conveniente
insistir em sua execução. O presidente, entretanto, vez por outra, voltava a abordar o assunto; era esta
a situação, em outubro de 1977.