atemorizam. As estradas são líquidas, as distâncias medem-se por quilômetros e o isolamento das
populações é uma constante, num mundo de comunicações e transporte precários. Seus problemas são
muitos; contudo, o maior deles, parece-me, é, ainda, a sua completa integração ao quadro nacional,
livrando-a da cobiça estrangeira e das mascaradas espoliações de suas riquezas, vistas e consentidas
pelas autoridades.
Voei sobre esta portentosa região várias vezes, por muitas horas, e pude aquilatar o inestimável
serviço que presta o Exército à causa da integração e segurança nacionais. Pulverizados pelas
fronteiras com os países vizinhos, vivem os nossos destacamentos sob sérias dificuldades, visto que
os locais de suas sedes são normalmente desprovidos de recursos. Recebem apoio de suas unidades,
porém, em virtude do regime de águas de certos rios, os suprimentos podem chegar ao destino com
retardo, em certos casos, superior a trinta dias.
Encontrei, em Porto Velho, o 5° Batalhão de Engenharia de Construção. Após ouvir uma
exposição minuciosa sobre a missão de que estava incumbido e percorrer a área da Unidade,
compenetrei-me da imprescindibilidade da Engenharia de Construção na região amazônica. Ela
rasga, no impropriamente chamado Inferno Verde, as estradas carreadoras da civilização, com os
mesmos entusiasmo e abnegação com que um pugilo de idealistas, chefiados por Rondon, desbravou
Mato Grosso, levando aos seus mais recônditos rincões o "fio que fala" - denominação ingênua dada,
pelo pasmo do silvícola, às linhas telegráficas.
Para que se possa bem apreciar os sacrifícios e riscos enfrentados pelos oficiais e praças dos
Batalhões de Construção, basta dizer que os acampamentos, ao longo da estrada em construção entre
Manaus e Caracaraí, eram protegidos por fortes cercas de arame farpado e vigiados, atentamente, por
sentinelas. Temiam-se, durante o dia, incursões inesperadas dos selvagens, e, à noite, ataques de
feras.
A Guarnição de Tabatinga comprava, normalmente, gêneros de primeira necessidade em Letícia,
cidade colombiana que lhe fica defronte. Podemos compreender as dificuldades, restrições e, sob
certos aspectos, a nossa situação vexatória, neste tipo de comércio. Após minha visita, ao regressar a
Brasília, apresentei ao Ministro da Agricultura - Alysson Paulinelli - a questão do abastecimento da
cidade de Tabatinga. Solicitou-me um local para instalar um farto armazém e, meses depois, com
apreciável organização, estava solucionado o problema. Inverteram-se, então, os papéis, e os
colombianos passaram a vir buscar no Brasil os artigos de que precisavam.
As dificuldades técnicas não eram menores. Contou-me o Comandante do 5° Batalhão de
Engenharia de Construção que o terreno em que trabalhava apresentava, a partir de curta
profundidade, tênues e sucessivos lençóis d'água, intervalados por camadas de solo consistente. Foi
necessário apelar para técnicos alemães especializados para que se encontrasse uma solução.
Salpicadas na Amazônia, em São Gabriel da Cachoeira, Porto Velho, Boa Vista, Cruzeiro do Sul
e Santarém, dirigidas de Manaus pelo Comando do 20 Grupamento de Engenharia de Construção,
tecem estas Unidades, com paciência e perseverança, uma verdadeira teia de progresso e integração.