IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

concessão.


As fábricas militares, aparentemente compensadoras, condicionavam sua produção, em
quantidade e qualidade, às verbas orçamentárias, à mão-de-obra especializada e semi-especializada,
ao valor técnico do quadro de dirigentes, em seus diferentes níveis, e às oscilações da política
governamental, penduleando sempre entre orientações opostas.


As verbas orçamentárias, solicitadas - na coerência de nosso tradicional espírito de sacrifício -
para atender às nossas necessidades mínimas, não podiam ser reduzidas sob o risco de prejudicarem,
de modo irreversível, as nossas atividades fins e ameaçarem a sobrevivência da instituição. O
descompasso entre o aumento dos custos dos artigos e o acréscimo anual dos recursos concedidos
para adquirilos faria pasmar qualquer administrador medíocre, desde que bem-intencionado. As
despesas imprescindíveis - "fatais'; na linguagem militar' - absorviam grande porcentagem do
orçamento, em prejuízo dos investimentos.


As contenções eram tão rigorosas e incoerentes que o panorama financeiro pedia uma explicação
para ser bem compreendido. No ano de 1975, para citar só um exemplo, a inflação atingiu 43%, no
entanto, o teto autorizado, para o planejamento das despesas do Exército a vigorar em 1976, não
deveria exceder de 20% do total estipulado para o ano de 1975. Iniciava-se, pois, um ano financeiro
com valores 23% menores do que no ano anterior. Ora, nestas condições, como as despesas ditas
"fatais" teriam que ser feitas, na melhor das hipóteses, nas mesmas quantidades e qualidades, sugar-
se-ia, inevitavelmente, considerável soma dos recursos destinados aos investimentos. Existia, ainda,
uma engenhosa, mas ardilosa recomendação da Secretaria de Planejamento da Presidência da
República, visando a ampliar aquelas contenções. Essa medida consistia em colocar pendente de
DIFERIMENTO3 uma quantia - somente manipulável mediante autorização - de 10% do orçamento
atribuído ao Exército. Essa norma agravava em muito a situação, porque a parcela retida era, na
realidade, uma parcela morta, visto que não poderia ser usada administrativamente, nem para
planejamento. Normalmente, esta quota sob diferimento era liberada a partir de outubro, quando uma
nova inflação já imperava, ficando, deste modo, seu poder aquisitivo diminuído.


Como poderíamos pensar numa indústria fabril militar eficiente no quadro econômico que, em
breves palavras, procurei definir?


O problema da mão-de-obra, nos estabelecimentos fabris, era dos mais graves, e sua solução,
procrastinada há anos sob a habilidosa alegação - usual nas repartições federais - de que estava em
estudos, debilitava a esperança e amortecia o entusiasmo dos que propugnavam pela fabricação
militar.


Os operários, mal pagos, que se conformavam em permanecer envelheciam, e as vagas ocorridas
por morte, aposentadoria ou outras causas não podiam ser preenchidas, por determinação
governamental. Não se processava, por conseguinte, a renovação.


Agonizavam, assim, as nossas fábricas militares.
Free download pdf