colocar em funcionamento a arma. A matéria-prima, em grande parte, tem a mesma origem. A
dependência permanece absoluta; fabrica-se, neste caso, o secundário, enquanto o essencial vem do
exterior.
A rigor, este mercado assemelha-se mais à rapinagem do que a atividade comercial. Vem, ao que
tudo indica, de tempos remotos a irrefreável ganância dos negociantes de armas que vendem seus
produtos aos beligerantes, independentemente de suas posições ideológicas, nacionalidades e raças.
Numerosos fatos a que assisti comprovam estes conceitos e apreciações; acho, por isso,
interessante revelá-los, numa pequena amostra.
Precisávamos, em 1974, de adquirir canhões de certo calibre para completar nossos depósitos e
prover algumas Unidades em fase de reorganização. A encomenda foi feita, após as exigências
legais, a uma firma comercial conhecida como idônea, devendo ser colocada em porto marítimo do
Oriente Médio, de onde a transportaríamos para o Brasil. Transcorrido o prazo estabelecido no
contrato, fiz reclamar junto ao contratante o retardo, tendo recebido, durante alguns meses, respostas
e explicações que visavam apenas a ganhar tempo na procura de uma solução de emergência. Como
insistisse na imediata entrega do armamento, confessaram os responsáveis pela transação que os
canhões tinham sido comprados em um país e, posteriormente, levados à recuperação nos excelentes
arsenais de material bélico existentes em Taipé, capital da República da China. Segundo
informações, o trabalho foi executado com perfeição, contudo, ao conhecer o governo nacionalista o
destino das armas, isto é, o Brasil, recusou-se, terminantemente, a permiti-lo, considerando a
situação política entre os dois países. Por conseguinte, os vendedores propunham entregar canhões
de menor calibre, dos quais não precisávamos, em número igual ao do contrato, pelo mesmo preço,
comprometendo-se a colocá-los em porto europeu. Era uma proposta velhaca que, em absoluto,
poderíamos aceitar.
Comprar canhões mais baratos pelos preços dos mais caros, com a agravante de não necessitar
deles, tudo isso depois de dois anos de espera, seria uma prova de irresponsabilidade. Recusada a
cínica oferta, começaram a atuar pressões para que fosse concluído o negócio nas novas bases, não
faltando aos interessados ardor e argumentos neste sentido. Mantendo-me na recusa, fiz suspender
pelo prazo de dois anos, como inidônea para negociar com o Exército, a referida firma comercial.
Entretanto, perdêramos dois anos, e talvez tivéssemos que aguardar tempo igual ou superior para
obter o material necessário à tropa.
O morteiro 4.2 orgânico das unidades de Infantaria existia nos Estados Unidos, em condições de
venda. Eram armas recuperadas, no entanto em muito bom estado de conservação e que poderiam ser
empregadas, com eficiência, durante muito tempo. Servia-nos a compra, numa época de
reorganização do Exército; convinha-nos o preço unitário de 3.500 a 4.000 dólares e interessava-nos
o relativo curto prazo de entrega. Assinamos com o vendedor um contrato e aguardamos o correr do
prazo estipulado para receber o material. Qual não foi a nossa surpresa ao saber, quando tentávamos
receber o armamento, que não existiam mais morteiros 4.2 recuperados para ceder. Sugeria o