vendedor que o Brasil comprasse morteiros do mesmo tipo, porém novos, agora ao preço unitário de
14.000 dólares. Não nos foi possível fazer a compra.
Meses depois, colheu o nosso serviço de informações a explicação desta mudança de
comportamento dos norte-americanos, no episódio da venda dos morteiros 4.2. Tinham eles cedido o
armamento a um país africano, em luta com seus vizinhos, cobrando, por unidade, 7.000 dólares, o
dobro do que deveríamos pagar, justificando a preferência em face da grave e difícil situação do país
comprador.
Procuramos, a seguir, na Inglaterra, obter o mesmo material, também recuperado, de preço
conveniente. Os ingleses tinham-no em depósito; no entanto, como o armamento era de fabricação
norte-americana, estavam os ingleses obrigados, por contrato, a consultar os Estados Unidos, que não
consentiram na cessão ao Brasil.
A munição do canhão de 76mm, usada nos carros M41A1 e M41A3, de reconhecimento
mecanizado, não mais estava sendo fabricada nos Estados Unidos, e sua obtenção dependia da boa
vontade dos americanos de a colocarem, novamente, em linha de fabricação, o que a tornava de
preço quase proibitivo para nós. Buscas realizadas na Itália mostraram custos mais elevados;
finalmente, conseguimos comprar na Coréia do Sul, para alívio geral, grande quantidade daquela
munição.
A fábrica de Itajubá, conforme informações que recebia, estava na dependência de peças vitais,
produzidas na Bélgica, para fabricar o nosso FAL - Fuzil Automático Leve.
O armamento, comprado em oportunidades, na maioria das vezes, para não dizer sempre, não
obedecia a um planejamento racional e gradativo de aquisições. Aparecia um oferecimento, era
julgado vantajoso do ponto de vista econômico, boas as condições de pagamento - comprava-se o
material. Visava-se mais, acredito, ao prestígio interno do que ao seu emprego eficiente, no conceito
de um exército em campanha. Suprimentos diversificados, manutenção complexa e apoio logístico
muito difícil trazem problemas, às vezes insolúveis, em decorrência desta heterogeneidade.
A compra dos últimos canhões antiaéreos Oerlikon, já assentada quando assumi a pasta do
Exército, dá um exemplo bem expressivo deste procedimento. Em virtude de negociações de governo
a governo, a Itália abriu-nos um crédito de - se não me trai a memória - 70 milhões de dólares para
aquisição de material bélico. Entre o armamento oferecido estava o canhão antiaéreo Oerlikon.
Decidiu-se então a compra de grupos antiaéreos providos daquele armamento. Esta decisão,
parece-me, já havia sido tomada no governo anterior e era irrevogável. De manejo delicado e grande
consumo de munição, os grupos Oerlikon seriam úteis, não há dúvidas, à instrução, mas as
dificuldades de reabastecimentos - projéteis de elevados preços - e de manutenção geral tornavam
fantasioso o seu emprego, com êxito, em operações no nosso país. Julgo, entretanto, que se
tivéssemos obedecido a um plano de aquisições não estariam esses grupos em primeiro lugar.