IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

não pretendia voltar ao Ministério do Exército. Despedimo-nos, cordialmente. Informações
posteriores contaram ter o ministro Falcão seguido diretamente para o palácio do Planalto.


Passados aproximadamente trinta minutos, recebi um telefonema do ajudantede-ordens do
Presidente da República, capitão-de-corveta Spindola, transmitindome um chamado do presidente.
Respondi que iria imediatamente.


Ao chegar ao palácio do Planalto, fui logo introduzido no salão dos despachos, e ali encontrei o
Presidente da República e o Ministro da justiça palestrando. Completamente modificado, bastante
afável, dirigiu-me o presidente a seguinte frase:



  • 0 que é isto Frota? Você está com "cócegas"?'


Mandou que eu me sentasse e prometeu tomar todas as providências para que o senador Leite
Chaves se retratasse, publicamente. Disse-me não existirem razões para aborrecimentos. Declarou
que mandara chamar o presidente do Congresso - senador Magalhães Pinto - para impedir a
circulação do Diário do Congresso Nacional, que deveria ser distribuído sem o aparte Leite Chaves.


Não obstante minhas sérias preocupações com os acirrados ataques que, de todas as direções,
faziam a imprensa em geral e os elementos esquerdistas de vários setores contra os órgãos de
segurança das Forças Armadas, eu acreditava, ainda, na sinceridade do general Ernesto Geisel.
Reconhecia que fatos anteriores vinham abalando a confiança que numerosos companheiros lhe
tinham creditado; via com amargor as restrições impostas ao Exército, preferindo afastá-lo da vida
nacional e compartimentá-lo numa área exclusivamente técnica, transformando-o, se possível, numa
Polícia Federal. Finalmente, sentia que o presidente, por temperamento e inclinações de sua origem
racial, era um homem predisposto à autocracia, que se julgava o possuidor de todas as soluções e
que só imprimia aos acontecimentos a orientação que fosse, exclusivamente, sua. Todavia, acreditava
ainda, repito, que tratasse o Exército, ao qual nós - eu e ele - devíamos tudo, com o interesse e o
respeito que merecia e merece. Sua atitude em relação ao caso Leite Chaves parecia ser dúbia,
porém talvez não significasse a primeira etapa do alijamento do Exército do processo
revolucionário, através de uma oportuna opção política, como eu admitia. Poderia ter sido ditada
pelo pânico de um confronto de imprevisíveis conseqüências. Ouvi, por isso, o presidente e aceitei
suas considerações, retirando-me, em seguida.


O Diário do Congresso Nacional, no dia 29 de outubro, contudo, foi distribuído sem a menor
alteração, transcrevendo o discutido aparte.


Somente no dia 4 de novembro, após muito procrastinar, o senador Francisco Leite Chaves
retratou-se, de público, das ofensas feitas ao Exército Brasileiro.


Destes acontecimentos podem ser retirados vários ensinamentos e conclusões; deixo os
primeiros à sagacidade dos que lêem, entre as últimas destaco:

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