política de lowprofile- de indiferença quanto às suas atitudes. Este propósito, todavia, não ficou bem
patenteado nas reuniões de Quito e San José da Costa Rica, porque o Brasil manobrou habilmente
para reintegrar a ilha socialista na OEA. Parece-me, portanto, não obstante os votos de abstenção,
que a decantada política de low profile e o nosso comportamento naquelas cidades foram, antes,
mais paradoxais do que coerentes.
Na questão de Angola o nosso procedimento foi absolutamente contraditório à tese
ardorosamente defendida pelo chanceler Azeredo da Silveira na OEA. Naquelas cidades fizera tábua
rasa de qualquer idéia ou argumento que colidisse com o princípio de não-intervenção, defendido,
veementemente, em todos os seus pronunciamentos. Batera com insistência na tecla da não-
intervenção, e sua obstinação em citar este princípio (em seu voto citou-o sete vezes, com referência,
en passant, à autodeterminação) poderia levar os assistentes menos avisados a admitirem sofresse de
palinfrasia, o que seria uma injustiça. Sobre a autodeterminação dos povos nada se disse com aquela
ressonância; no entanto, os dois princípios, vistos do mesmo ângulo de coerência, são harmônicos e
não se repelem. Cabe a cada povo decidir de seus destinos e toda interferência em seus assuntos
internos, não solicitada, revela opressão, denota prepotência. A autodeterminação,
conseqüentemente, é o princípio basilar do relacionamento entre os povos.
Teria o povo angolano pedido o auxílio dos cubano-soviéticos?
O marxista Agostinho Netto pediu-o, com certeza; mas ele não representava o povo angolano,
que lutava em mais duas frentes, com maiores território e população.
Holden Roberto e Jonas Savimbi também foram ajudados por estrangeiros. O primeiro teve, até,
técnicos chineses e o segundo usou mercenários sul-africanos; entretanto, não havia entre os seus
combatentes tropas regulares como as cubanas de Agostinho Netto.
Sobre a atuação da China, no momento em que os sinófilos estão exultantes, é oportuno chamar-
lhes a atenção para as palavras de Roderick Mac Farquhar, Subsecretário de Relações Exteriores do
Foreign Office, proferidas em setembro de 1975: "Como político e ideólogo Mão sempre sustentou
que se deve procurar a `primeira contradição, a contradição principal. A contradição principal, do
ponto de vista chinês, é a ameaça que para eles representa a União Soviética. Por isso Pequim não só
apóia a Otan, mas na verdade é mais ardorosa na defesa da unidade européia do que muitos
europeus."24 Isto explica, na África e na Ásia, chineses e russos, ambos comunistas, lutando em
campos opostos.
Na defesa de Luanda do ataque conjunto lançado pelas forças das FNLA e Unita, centenas de
soviéticos - pilotos de caça, operadores de tanques e assessores - juntaram-se às unidades cubanas
que lutavam ao lado das tropas do MPLA. Pelo menos 400 soviéticos desembarcaram no porto de
Luanda para dirigir tanques e pilotar aviões MIG-21. Mísseis antiaéreos SAM7 foram fornecidos
pela União Soviética para proteção da cidade. Estas notícias, colhidas pela imprensa em fontes
diplomáticas, mostram a decisiva participação comunista na vitória de Agostinho Netto.2s