m dezembro de 1975, o presidente Geisel visitou a República do Paraguai, tendo eu sido um
dos integrantes de sua comitiva. A viagem visava ao fortalecimento dos laços que ligam o Brasil à
República do Paraguai e à assinatura de documentos de interesse para as duas Nações. A assinatura
do Tratado de Amizade e Cooperação, incrementando nos diversos setores de atividade as relações
entre os dois países, foi o principal destes atos. Mereceu também destaque o Protocolo que regulou a
posse e soberania sobre ilhas fluviais.
Uma das reivindicações paraguaias era a restituição dos troféus de guerra, questão já tratada com
ardor patriótico e emoção em épocas passadas.
Os troféus são importantes fundamentos materiais de nossa educação cívica. Eles preservam, na
memória das gerações, o valor de nossos antepassados. Orgulhamo-nos de possuí-los, porque são
símbolos representativos do heroísmo de nossa gente, de nosso povo. Foram conquistados em
violentos combates, no choque das baionetas, nas impetuosas cargas dos lanceiros ou sob
bombardeio dos canhões inimigos. Custaram-nos o sacrifício de numerosas vidas e não menores
mutilações de nossos soldados - entendido o termo, aqui, na sua acepção genérica, que se estende do
simples recruta ao marechal.
Tanto são heróis o corneteiro Domingos, que, ferido de morte no combate de Lomas Valentinas,
ainda encontra forças para soerguer-se e dar o seu último toque de avançar, como o general Sampaio,
que cavalgando à frente de suas tropas é atingido, mortalmente, pelos projéteis inimigos.
Os troféus são bens inalienáveis da nacionalidade, pertencem aos nossos heróis, portanto não
podemos dispor deles. Este era e é o meu parecer sobre o assunto. Às vésperas da partida, em
audiência de rotina, o presidente Geisel, cujo descaso pela tradição já conhecia, desde o episódio do
forte de Coimbra, citado neste livro, não abordou, no entanto, a questão da devolução dos troféus de
guerra. Referiu-se, contudo, à restituição do "Livro de Ouro", um álbum que reúne as atas de
oferecimento que as mulheres paraguaias fizeram, de suas jóias, alfaias e dinheiro, ao marechal
Francisco Solano López, para ajudar a sustentação da guerra. De estar o álbum encerrado em
escrínio de prata, chapeado com lâminas de ouro e, ainda, pelos ornamentos - florões, presilhas etc...
- deste metal, adveio-lhe a designação de "Livro de Ouro".
Este livro foi encontrado pela cavalaria brasileira na bagagem do marechal López, após o
combate de Cerro Corá. Trazido para o Brasil, pensaram em oferecêlo ao imperador Pedro II, que,