IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

obra de algum bajulador ou intrigante.


Na guerra, este tipo de informação foi usado desde a antigüidade oriental. Gengis-Khan, o
famoso conquistador mongol, ao investir uma cidade, cercada por suas forças, escrevia ao general
que a defendia, chamando-o de amigo e reclamando a rendição, assentada entre eles em combinação
prévia. Entregava a um mercador qualquer a correspondência que, apreendida, colocava na posição
de traidor o leal defensor. A desconfiança e o pânico acabavam por esboroar a resistência.


Mas nós não estávamos em guerra, pelo menos que eu o soubesse, nem na psicológica, em que os
especialistas, para justificá-las, situam essas ações.


Chamado pelo presidente, segui imediatamente para o palácio.

Indignado com o que vira e ouvira e, ainda, em face dos fatos anteriores, estava convencido de
que o Comandante do II Exército, general D'Ávila Mello, perdera as condições e o ambiente para
exercer tal cargo. Não tinha, no entanto, a intenção de propor sua exoneração, porque desejava
aguardar o resultado do IPM.


A sua permanência trazia, contudo, um sério inconveniente. O general D'Ávila Mello estava
sendo vítima de violenta campanha dos órgãos de comunicação, que o acusavam de ser o maior
responsável, senão o único, pelos graves e repetidos acontecimentos do DOI/CODI do II Exército.
Seu crédito público era nulo e qualquer IPM feito por subordinado seu, sendo ele a autoridade por
lei incumbida de solucioná-lo, ficaria sob inevitável suspeição. A opinião pública não admitiria que
um oficial hierarquicamente dependente de um general tirasse de um inquérito ilações que o
comprometessem.


Sob outro aspecto, a medida de exonerá-lo logo daria aos militares a impressão de que, no
confronto da repressão com a subversão, o governo decidira-se pela subversão, desprestigiando, por
conseguinte, o general.


O importante para mim estava na posição do Exército, no evitar que se manchasse a instituição
com a nódoa ignominiosa e inexplicável de cúmplice de assassínios e protetora de criminosos,
comparando-a à Gestapo, como o fizera um senador após a morte de Wladimir Herzog.


No meu conceito, os homens, quaisquer que fossem, estavam abaixo do Exército. Estas reflexões
me acompanharam até o Alvorada e não as abandonei até hoje.


O presidente recebeu-me na biblioteca do palácio, local de suas audiências com os ministros.
Mostrava-se apavorado com os acontecimentos aos quais se referiu nervosamente.


Transtornado, falando alto, contudo sem gritar, proferia apodos e insultos ao Comandante do II
Exército, insistindo em que ele não poderia mais permanecer naquele comando e em exonerá-lo
imediatamente, deixando-o sem comissão.

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