Redigi e enviei, imediatamente, ao Comandante do II Exército enérgico radiograma, transcrito
em anexo, no qual determinava a abertura de rigoroso inquérito, com a máxima urgência?
Liguei para o II Exército e falei com o general D'Ávila Mello, que confirmou ter estado ausente
de São Paulo e disse estar tomando as medidas para a apuração dos fatos.
Mal terminara de falar com o Comandante do II Exército, recebi um telefonema do próprio
presidente Geisel que, muito aborrecido, já informado da ocorrência, chamou-me ao palácio da
Alvorada.
O presidente, segundo informações posteriores recebidas do CIE, tinha sido avisado, no domingo
à noite, pelo governador de São Paulo, que usara inicialmente a seguinte expressão:
- Presidente! Matando-se assim, um por mês, no DOI/CODI do II Exército, nós não ganharemos a
eleição em São Paulo.
E, então, deu a sua versão dos fatos ocorridos. Cabem, aqui, por oportunas, algumas
considerações.
É inacreditável que o SNI, cuja rede de espionagem estende-se por todo o país, que mantém
ligações permanentes com seus agentes e invade, através das censuras telefônica e postal, até a vida
particular dos cidadãos, desconhecesse o suicídio do operário por dois dias, a ponto de, na segunda-
feira, o chefe daquele Serviço, general-de-divisão João Batista Figueiredo, dizer ao Presidente da
República que ignorava os acontecimentos da capital paulista.
Não pairando dúvidas sobre a comprovada eficiência do Serviço, só podemos encontrar duas
explicações: ou o Chefe do SNI era um omisso, hipótese que rejeito como inverossímil, ou escondeu
a notícia, não a transmitindo ao CIE e ao presidente, deixando que este a soubesse por outras fontes e
colocando, deste modo, o Ministro do Exército na situação embaraçosa de saber dos fatos ocorridos
em seu setor por intermédio do presidente.
O SNI nada informou ao CIE - órgão a ele vinculado diretamente no sistema de informações -
como o fazia habitualmente quando a informação era do interesse específico desse órgão. Esse
comportamento foi muito estranho. Também muito esquisito foi o procedimento do Subchefe do CIE,
ocultando, por 48 horas, uma informação dessa importância.
Chegou-me, dias depois, a notícia esclarecedora, lançada pelo próprio pessoal do SNI, de que o
general Figueiredo não tinha informado ao presidente visando a permitir que o general Frota tomasse
as providências para atenuar o impacto emocional. Constituía esta notícia o exemplo típico do que
chamamos "informação dirigida", que tem como objetivo fazer crer num fato não existente e conduzir
a opinião geral num sentido vantajoso para os propósitos do órgão ou do indivíduo que a gerou. É a
"informação falsificada" que estigmatiza de infamante a conduta dos homens que a propagam. Não
acredito que o ex-Chefe do SNI tivesse participação, por menor que fosse, nessa divulgação. Foi