IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

coloca na posição de sugestionável e ingênuo em face das manobras políticas.


Estas surtidas sobre a caserna, em qualquer tempo perniciosas, podem criar dissensões, se
correntes políticas adversárias levam-nas a efeito com êxito.


Explico esse pacto, que tem ocorrido em situações difíceis e penosas para a Nação brasileira,
como uma coincidência de finalidade e propósito que os obriga, consciente e transitoriamente, a
lutarem unidos por um objetivo comum, cuja conquista, para o militar, será a satisfação de um ideal
e, para o político, a investidura em ambicionados cargos do poder.


No entanto, as sinuosas veredas desta interferência lançam, inevitavelmente, os militares nas
lutas de facções que conspurcam os arraiais do partidarismo político, expondo-os a críticas e
comentários de subordinados que, se não chegam a desmoralizá-los como chefes, desprestigiam-nos
como líderes.


Estes aspectos da participação do militar na política, não raro apreciados superficialmente, têm
dado origem a equívocos e certos conceitos que, pouco contestados, generalizam-se, tomando foros
de axiomas. Devem por isso ser desfeitos, porquanto, além de levianos, são injustos.


Um destes juízos, talvez o mais divulgado por gregos e troianos, diz que o militar não deve e não
pode tomar parte na política, imprimindo-se na frase um sentido imperativo de alienação, o que, a
rigor, é uma manifestação segregativa.


A aceitarmos esta concepção, que rejeito por ilógica e discriminatória, teríamos que encafuar o
militar no quartel, privá-lo de qualquer contato político, vedar-lhe informações sobre a conjuntura
nacional, aliená-lo da vida pública, enfim, transformá-lo num autômato.


Ora, se a política, em sua sadia compreensão, é o "estudo da organização social ideal",' não se
pode negar ao cidadão o direito de acompanhá-la, censurá-la ou aplaudi-la, nas suas "tentativas de
coordenar o real à luz do ideal".


É este um direito que se estende ao militar - também integrante da sociedade - para que ele possa
bem discernir, de conformidade com a sua consciência, as decisões a tomar.


O que realmente seria salutar ao Exército quanto às relações dos militares com a política é que
nenhum deles - do soldado ao general - devesse imiscuir-se na política partidária e penetrar na área
da politicagem, em que os processos de êxito estão vinculados a acomodações e conchavos,
desusados no ambiente castrense por avessos à nossa formação. Lamentavelmente, quando isso
ocorre, obliteram os puros postulados do idealismo para aconchegarem-se aos garantidos e
mercenários proveitos do pragmatismo.


Como proceder, então, o militar que por dever e consciência não pode ser um desterrado da
política, ao passo que rigores regulamentares, praticamente, obrigam-no a isto?

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