A doutrinação - uma catequese sem o mito de religiosidade - busca criar nas populações um
estado de espírito favorável à idéia, saturando-lhes o ânimo de entusiasmo para a luta de
transformação. Incumbem-se dela os adeptos, apóstolos e seus seguidores. Pode durar anos, até
séculos, para efetivar-se em fatos. Sobre a Revolução Francesa diz o autor já citado: "Foi preparada
durante um século ou mais."
A deflagração, o terceiro elemento da trindade, é o incêndio que inicia a luta pela implantação
da idéia, provocado com freqüência por centelha fortuita. Impregnada pela violência, recebe sempre
o auxílio da força, tumultuária das turbas em desatino - ou organizada dos contingentes militares. É a
fase decisiva das revoluções. Conseqüentemente, não há revolução sem uma idéia que lhe ilumine os
promissores caminhos, sem persuasão que fortaleça as convicções dos fracos e conquiste os
incrédulos, e, finalmente, sem uma força que arrase as adversas e persistentes resistências que se
obstinam em impedir a materialização da idéia.
E como se comportam militares e políticos neste panorama?
O militar, quando aceita e adota uma idéia revolucionária, dá-lhe automaticamente
possibilidades, conquanto remotas, do auxílio da força, porque dela ele é uma parte. As sérias
dificuldades que enfrenta, o grande hiato com que se depara é o aliciamento pela doutrinação, visto
que, tolhido por rigorosas normas disciplinares, está virtualmente proibido de realizá-lo, pelo
menos, ostensivamente. Em virtude deste óbice, filia-se espiritualmente a correntes de pensamento
político propagadoras das mesmas idéias que esposou e preconiza.
Entretanto, a perspectiva do problema, vista do campo político, é outra. O político, se encampa a
idéia e domina por condições intrínsecas a doutrinação, falta-lhe, contudo, a força por que provoque
ou assegure a deflagração. Vai buscá-la, vai catá-la, por conseguinte, no meio militar.
Há nessa dinâmica uma imperativa exigência do entrosamento de atividades em prol de uma
mesma causa.
Assim, nesta fase de confabulação conspirativa, hábeis políticos, valendo-se dos meios de
comunicação, bem como de prosélitos, difundem nos quartéis argumentos que robustecem convicções
latentes e angariam novos partidários.
A existência desse método de atração está, entre nós, historicamente comprovado por Oliveira
Vianna, na asserção que faz num dos seus livros ao estudar o papel do elemento militar na queda do
Impérioz
Diz ele claramente que os políticos fazem irromper sempre "das portas ameiadas dos quartéis ...
um bando de ovelhas ou uma alcatéia de feras'; de acordo com seus interesses, explorando o
idealismo dos militares.
Tal conotação do grande historiador, todavia, não é muito lisonjeira ao militar, visto que o