- Então... eu avoco o inquérito... (Gritou o presidente, batendo na mesa.)
- O senhor, presidente, não pode avocar o inquérito... O senhor é o Presidente da República e o
problema está restrito ao Exército e à Justiça Militar. A lei não permite... (Fui interrompido pelo
presidente.) - Mas... então eu faço uma lei, permitindo...
- Neste caso... o senhor poderá avocar... Mas presidente, veja bem, o que o tenente-coronel
Ernani está fazendo é MORAL e é LEGAL... - Não governo somente com o que é MORAL e é LEGAL...
- Eu vou mandar chamar o general Euclydes de Figueiredo para ouvi-lo e esclarecer tudo... Com
licença...
Levantei-me e regressei ao Ministério, de onde fiz expedir rádio chamando o Comandante da 8'
Região Militar à Brasília.
No dia seguinte recebi-o em minha residência e almoçamos juntos. Narrei-lhe a audiência com o
presidente, sem aludir às descabidas manifestações de histeria a que assistira. Não o fiz dado que
nunca foi do meu feitio moral revelar a subordinados as debilidades de comportamento ou sinais
megalomaníacos surpreendidos em meus chefes. Eles que os percebessem ou descobrissem.
A entrevista com o general Euclydes de Figueiredo foi produtiva e franca; produtiva porque
conheci, em minúcias, todos os fatos já aqui descritos, e franca visto que não me ocultou a sua
convicção de que as provas existentes inculcavam os sacerdotes como cúmplices na fermentação
social de Conceição do Araguaia.
Examinei os documentos e, na realidade, a serem verdadeiros, deixavam-nos atônitos quanto ao
procedimento dos religiosos ali citados. Constituíam-se, essas pretensas provas, em declarações de
posseiros, alguns papéis com conselhos ou recados, todos, porém, sem identificação dos seus
autores. Existia, também, uma declaração de um padre, bastante comprometedora para o bispo de
Conceição do Araguaia.
Note-se, em tudo isto, que o Comandante da 8á Região Militar não tinha a menor prevenção com
o clero católico, mas, como eu, ficara estarrecido com os elementos que colhera nas buscas e
inquirições preliminares.
Todo julgamento sofre, em última análise, influências subjetivas. Não estaríamos nós, por isso,
dando interpretação errônea àquelas supostas provas?
Não se tratava de fugir à responsabilidade de uma acusação, contudo, esta deveria ser tão
cristalina e convincente que se tornasse irrespondível. Nessa circunstância estava, do meu ponto de