A MORTE DE JUSCELINO E O LUTO NACIONAL
No domingo, 22 de agosto de 1976, na altura do quilômetro 165 da via Dutra, em sério desastre de
automóvel, faleceu o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Atendendo a chamado urgente do
Presidente da República, na segunda-feira pela manhã compareci ao palácio do Planalto, onde já
encontrei o ministro Armando Falcão em audiência com o chefe do governo.
Fui logo recebido pelo general Geisel, que assentava com o Ministro da justiça algumas
providências quanto aos funerais do ex-presidente.
Após comentar o trágico acontecimento, que todos três lamentamos, e anunciar que o
sepultamento de Juscelino seria em Brasília, disse-me o general Geisel:
- Vou decretar luto nacional pelo falecimento de Juscelino; quero que você explique a situação
aos generais.
Discordei e expendi, para justificar esta divergência, a argumentação que, em síntese,
transcrevo:
- O senhor não pode fazer isto, presidente! A Revolução cassou os direitos políticos de Juscelino
Kubitschek por considerá-lo um dos responsáveis pela desagregação social-moral-econômica que
levou o país à beira do caos em 1964. Como se justifica, agora, a mesma Revolução que o afastou da
política brasileira, em expurgo tido como saneador, determinar luto nacional, por ter morrido?
O presidente ouviu em silêncio e depois murmurou algo referindo-se ao povo, como se a medida
fosse para agradá-lo. O ministro Armando Falcão, impassível, assistia a tudo.
Prossegui:
- Se o senhor conceder, presidente, luto nacional, terá, no futuro, que proceder do mesmo modo
com João Goulart, Jânio Quadros e outros cassados que venham a falecer no seu governo.
O presidente reafirmou sua decisão e voltando-se para o ministro Armando Falcão disse-lhe:
- Você, Armando, irá representar-me no enterro...
O ministro Falcão agitou-se na cadeira e com veemência respondeu: