Temiam os órgãos de informações o alongamento do trajeto por AlegreteCacequi-Santiago, numa
marcha de possíveis agitações políticas.
Felizmente isto não ocorreu e o corpo do ex-presidente, em sua triste e última viagem por terras
brasileiras, atingiu a cidade de destino, onde foi inumado.
O que teria acontecido nos bastidores palacianos e no Rio Grande do Sul para conturbar dessa
maneira o ambiente, criando situação de choque entre as autoridades?
O Departamento de Polícia Federal recebera ordem para autorizar a transposição da Ponte
Internacional, enquanto o Exército cumpria determinação presidencial de impedi-la. Este panorama
confuso, em que flutuavam oscilações de decisão, pode ser explicado, porém não justificado.
Retrocedamos no tempo para tentar explicá-lo.
O Vice-Presidente da República - general-de-exército Adalberto Pereira dos Santos -, no
consenso dos órgãos de informações, mantinha ligações eventuais com elementos da família Goulart.
Encontrando-se em Porto Alegre no dia do falecimento do ex-presidente, foi naturalmente procurado
e instado a conseguir autorização para o deslocamento do corpo de Mercedes para São Borja.
Visando a obtê-la, ligou-se com o coronel chefe de seu gabinete, em Brasília, determinando-lhe que
transmitisse ao Presidente da República a solicitação, o que foi feito, segundo o coronel, por
intermédio do general Chefe da Casa Militar.
A resposta de anuência presidencial foi transmitida ao vice-presidente, que a difundiu ao
Comandante do III Exército e ao governador do Rio Grande do Sul.
O ponto dolente da questão não era, contudo, a autorização do transporte do corpo para São
Borja, mas sim a proibição de que o deslocamento fosse feito por terra.
As autoridades militares estavam cientes desta restrição e o delegado da Polícia Federal, do
mesmo modo, a conhecia. Foram portanto tomadas providências neste sentido. Entretanto, familiares
do ex-presidente, inconformados com a interdição da Ponte Internacional, ligaram-se diretamente
com o Chefe-de-Gabinete do vicepresidente e este estabeleceu novos contatos telefônicos com o
delegado da Polícia Federal, lembrando-lhe que o presidente autorizara o transporte.
Este emaranhado de ligações balburdiou a situação, levando - consoante informações posteriores
- o delegado da Polícia Federal a liberar a Ponte Internacional. Tal decisão propiciou o
deslocamento em condições rigorosamente proibidas pelo presidente.
Um dos grandes responsáveis pelo não cumprimento da ordem presidencial foi o Chefe-de-
Gabinete do vice-presidente, que exorbitou de sua autoridade para insinuar ao delegado um
procedimento. Deveria, antes, entender-se com a Casa Militar presidencial ou o gabinete do Ministro
do Exército, atualizando-os sobre as recomendações e ordens.