Alguns comentários gerais sobre a conjuntura encerraram o encontro. O presidente recebera, ali,
o respaldo das Forças Armadas à sua decisão de pôr em recesso - por pouco tempo - o Congresso
Nacional, com o objetivo de promulgar a reforma do judiciário.
Horas depois, ao término do almoço de que participou, discursou de improviso. Desta oração,
por pertinentes ao assunto, destaco os trechos:
Lamentavelmente, em função da atuação de uma minoria... não foi possível obter a aprovação...
É, sem dúvida, um fato lamentável. Prejudicado com esta medida não é o governo, prejudicado é
o povo, prejudicada é a Nação brasileira, que precisa de uma nova Justiça. Eu lhes afirmo que
essa nova justiça se fará.
Neste mesmo dia fui convocado para uma sessão do Conselho de Segurança Nacional que
deveria ocorrer em Brasília, na manhã seguinte.
Na capital da República, a 10 de abril, processou-se a reunião prevista. O presidente, abrindo os
trabalhos, fez exposição sucinta dos últimos acontecimentos, já públicos, e apresentou três linhas de
ação normais para resolver as dificuldades deste tipo, criadas pela rejeição do projeto pelo
Legislativo:
- Conformar-se o governo. Neste caso a Nação continuaria a sofrer com uma Justiça lenta e
inadequada. - Aguardar dois anos para apresentar novo projeto, de acordo com as exigências legais.
- Colocar o Congresso em recesso - faculdade que lhe era atribuída pelos Atos anteriores - a
fim de decretar a reforma do judiciário.
Apresentava-as, portanto, ao exame dos presentes, cuja opinião desejava ouvir.
Passaram, então, os ministros a opinar. A proposta de pôr em recesso o Congresso para decretar
a reforma do judiciário foi aprovada por unanimidade. Alguns ministros aludiram a outras medidas
de caráter administrativo que poderiam ser tomadas sem, contudo, especificá-las. A maioria absoluta
limitou-se a apreciar as três soluções propostas. Ao término da reunião, ficou decidido o recesso,
por curto prazo, do Congresso Nacional, o que foi decretado, ainda no dia 1°, pelo presidente Geisel.
Estabelecida, também, a decretação da reforma do judiciário - conseqüência imediata e lógica
daquela medida -, foram ainda lembradas, por alguns, a eleição indireta dos governadores e redução
do quórum para a aprovação das emendas constitucionais. Nada mais ocorreu, visto que copiei e
guardei tudo que ali se disse, sem omitir os nomes dos que o disseram.2
Soube, posteriormente, que às vésperas daquele dia o presidente tinha reunido os líderes da
Arena no Congresso e participara-lhes a sua idéia do recesso, sendo esta intenção bem recebida.