informado do que se planejava, procurou evitar a agressão, ligando-se com um dos chefes do
movimento de revide. Infelizmente, agiu com inabilidade, tentando atemorizar os oficiais com a
notícia de que a redação do jornal estava fortemente guardada pela polícia.
Possuindo o militar uma individualidade deflagrante, esta ameaça velada redundou em efeito
contrário ao que desejava o delegado auxiliar, causando maior excitação.
O dr. Pedro Ernesto do Rego Batista, médico de grande reputação, era membro da diretoria do
Clube 3 de Outubro e político intimamente ligado ao grupo "Tenentista". Exercia o cargo de
interventor no Distrito Federal no dia dos acontecimentos que narro. Ao tomar conhecimento do que
se projetava, Pedro Ernesto partiu célere para o 1° RCD a fim de oferecer sua participação pessoal
na ação contra o jornal.
O mesmo oficial que liderava a operação - tenente Theophilo Ferraz Filho - disse a Pedro
Ernesto, de quem era amigo, que todos agradeciam a valiosa e espontânea solidariedade que ele lhes
prestava, contudo pediam que se retirasse para evitar que fosse atribuído ao procedimento dos
oficiais qualquer tonalidade político-partidária.
Segundo um oficial que assistiu a esse encontro, o tenente Ferraz dissera, ao final:
- É um problema nosso! Cabe aos militares sozinhos solucioná-lo! As afrontas ao Exército serão
repelidas pelos oficiais do Exército... à nossa maneira. Agradeçolhe Pedro, mas é de nosso interesse
que você se retire...
Ao cair da tarde do dia 25 de fevereiro de 1932, os militares empastelaram o Diário Carioca,
com ímpeto e agressividade que tocavam as fímbrias do desatino. Foi este empastelamento que, no
dizer de historiadores, deu início à fase aguda das dissensões políticas, as quais, pelo seu contínuo e
progressivo agravamento, desaguaram na Revolução Constitucionalista.
Após esses gravíssimos eventos o Ministro da justiça, dr. Joaquim Maurício Cardoso,
acompanhado do Chefe de Polícia do Distrito Federal, Baptista Luzardo, procurou o Ministro da
Guerra, general José Fernandes Leite de Castro, para protestar contra o que chamou de atos de
vandalismo dos militares que atacaram a redação do Diário Carioca.
Contaram os oficiais do gabinete ministerial, em particular um deles com quem servi por muitos
anos, aparentado do ministro, que o general Leite de Castro, ao ouvir a reclamação proferida em
palavras candentes, empertigou-se sobre as luzidias botas e respondeu com voz firme e clara:
- Sr. ministro! Esses oficiais fizeram o que eu teria feito, se menos vinte anos tivesse...
Esta atitude do nosso Ministro da Guerra recorda-nos outra, não menos nobre e corajosa, do
marechal Câmara - herói das cargas de cavalaria, no Paraguai - provando ser tradicional a
solidariedade militar.