Criam-se deste modo verdadeiros estereótipos sociais, que grande parte da camada inferior do
nosso povo - infelizmente ainda em estado de primitivismo cultural - aceita e divulga, por falta de
reflexão.
Forja-se, desta maneira, a versão que passará à História como verdade.
A imprensa da época deu ao acontecimento um caráter exclusivamente político e há historiadores
que endossam esta interpretação, afirmando ter sido a redação do jornal depredada por elementos do
Clube 3 de Outubro e do Exército, em revide à decretação do Código Eleitoral.
É uma explicação simplista, baseada talvez mais em coincidências cronológicas do que nos fatos
efetivamente sucedidos.
Todavia, não é possível despir estes fatos de importância e conotações políticas pelas
conseqüências que provocaram, agravando a instável conjuntura nacional com as demissões de
ministros e do Chefe de Polícia do Distrito Federal.
As reais causas dessa violenta reação, porém, foram as injúrias e difamações lançadas sobre o
Exército, como se depreenderá do prosseguimento desta descrição.
Acompanhei, ainda como cadete de Cavalaria, através da imprensa e de informações
particulares, aquelas desagradáveis ocorrências, e sanei, posteriormente, com oficiais delas
participantes, as dúvidas que me restaram da leitura dos noticiários. Posso fazer, pois, uma narrativa
do que aconteceu, se não perfeita, muito próxima da verdade.
O matutino Diário Carioca, sob a direção do jornalista José Eduardo Macedo Soares, vinha
divulgando virulentos artigos contra os integrantes das Forças Armadas num crescente diapasão de
insultos.
Em face de o governo não determinar qualquer providência eficiente para coibir estes ataques,
sob a alegação de não haver censura e ser a imprensa livre, oficiais do Exército reuniram-se no
Clube Militar para tomar medidas que acabassem de vez com essa situação vexaminosa. Decidiu-se
ali que, à primeira publicação ultrajante, o Diário Carioca seria empastelado, ficando assentado,
também, que nesta hipótese os oficiais afluiriam ao quartel do 1° Regimento de Cavalaria
Divisionário -1° RCD - em São Cristóvão, de onde deveriam partir, em massa, para a redação do
jornal.
Foi quando em fevereiro surgiu naquele órgão da imprensa injurioso artigo, gota d'água que
transbordou o jarro da paciência castrense. Os oficiais, de acordo com o que haviam combinado,
convergiram para o 10 RCD prontos a dar início à ação que desagravaria dos ultrajes a honra e a
dignidade militares.
O delegado de polícia, titular da 4á Delegacia Auxiliar - dr. Joaquim Pedro Salgado Filho -,