próprio presidente.
Na semana seguinte à das promoções, recebi em audiência o general Cesar Montagna, que estava
revoltadíssimo com a preterição. Sentado ao meu lado, num gesto de desespero, levantando os
braços, interpelou-me:
- Frota! Diga-me por que eu não fui promovido?
- Não sei com certeza... Mas se soubesse não o diria sem autorização do presidente (na realidade
tinha posto em dúvida a explicação presidencial quanto à preterição de Montagna. Hoje, com o
desenrolar dos acontecimentos e a análise de outras promoções e preterições, adquiri a convicção de
que aquelas alegações escondiam a verdadeira causa - abertura de claros). - Procurei o João e perguntei-lhe: João, viu o que fizeram comigo? Ele me respondeu: "Estou
sabendo agora dessa bandalheira que eles fizeram com você."3
Continuando, muito irritado, o general Montagna declarou que o general Figueiredo informara-
lhe, ainda, nada ter sabido do general Geisel, que se mantivera silencioso em relação às promoções.
Esta resposta, confrontada com a comunicação feita pelo jornalista Paulo Vidal e com a
informação do general Hugo Abreu - constante de seu livro O outro lado do poder, à página 160 - em
que afirma ter o general Figueiredo participado de uma reunião na qual o presidente decidira preterir
Montagna, sem que articulasse uma só palavra em defesa deste general, não pode ser entendida.
O general Montagna, após a conversa que tivemos, entrou em gozo de férias, protelando uma
solução definitiva sobre sua transferência ou não para a reserva.
Concluídas as férias solicitou-me uma nova audiência. Voltamos a conversar sobre a sua
situação e ele me entregou uma carta na qual traduzia o desejo de continuar concorrendo às
promoções, uma vez que tinha grande desejo de atingir o ápice da sua carreira.
A carta vinha timbrada por dois carimbos: "Pessoal" e "Reservada" (ou "Confidencial").
No primeiro despacho presidencial, antes de retirar-me, disse-me o general Geisel, fitando-me
com arrogância:
- O Montagna andou escrevendo cartas aos membros do Alto Comando, declarando que iria
permanecer... - Escreveu e eu recebi uma destas cartas, entretanto, não me senti na obrigação de mostrá-la ao
senhor, porque era pessoal e reservada... - Mas eu não o promoverei...