IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

niciei, em dezembro de 1932, como aspirante a oficial da Arma de Cavalaria, o avançar pela
íngreme subida que dá acesso aos postos de mando na vida castrense.


Quando emprego o termo íngreme faço-o na acepção de árduo, de espinhoso, porquanto a
profissão das Armas é um sacerdócio, que só pode ser bem exercida e compreendida pelos homens
que a ela são conduzidos por sincera vocação. Os outros - os da ânsia ascensional - usam-na, mas
não a exercem. É uma carreira de grandes sacrifícios que submete a constantes e rigorosas provas o
caráter do soldado, nas pressões dos conflitos de sentimentos, em angustiosas provações.


Muitas vezes comportamentos contraditórios, conquanto pareçam paradoxais, definem bem o
pundonor militar nas decisões graves dos momentos difíceis. A dignidade, consoante a circunstância,
tanto poderá estar no falar como no não falar. Se a honra, em certos momentos, obriga à violência
para lavá-la de injúrias, ocasiões há em que leva à nobreza de delir na resignação injustiças e
incompreensões - a superioridade d'alma que Alfred de Vigny consagrou como a grandeza passiva do
militar.


É essa a escarpada encosta de nossa sublime profissão!

No 10 Regimento de Cavalaria Divisionário, onde fui classificado, reinavam o mesmo espírito
de camaradagem e dedicação ao trabalho comuns nas unidades do Exército, sendo os serviços e a
instrução bastante fatigantes como sói acontecer na tropa das Armas ditas montadas.


A vida da caserna começava ao clarear do dia e entravam as atividades regimentais,
constantemente, pela noite. O "toque de ordem"; marcando o término do expediente e, portanto,
liberando oficiais e praças que não estavam obrigados a permanecer no quartel, era com freqüência
dado próximo das oito horas da noite. Aos sábados havia uma tolerância de horário, encerrando-se
os trabalhos às doze horas; o domingo destinava-se ao descanso, quando a escala de serviço não nos
importunava. Os oficiais solteiros, em geral, dormiam no quartel.


Assim, labutava-se naquela época nas hostes castrenses, sob as auras do idealismo que reforçava
diariamente nossa fé num grandioso futuro para o Brasil.


Por força das habituais transferências, exercia o cargo de instrutor do curso de Cavalaria, no
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de janeiro (OPOR), quando na madrugada,
estranhamente fria, de 27 de novembro de 1935, irrompe no Rio a intentona comunista, nas condições

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