IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

em Três Corações, bucólica e acolhedora cidade mineira, cumpria a escala de serviço como oficial
de dia, quando o estafeta entregou-me rádio urgentíssimo destinado ao comandante do regimento. A
mensagem, tendo caráter funcional, podia ser aberta para as providências necessárias. Tratava-se,
em síntese, de uma ordem de embarque no mais curto prazo para a região de jacutinga, no sudoeste
do estado de Minas Gerais, em condições de avançar para Oeste.


O expediente naquele dia terminara mais cedo e só permanecia na caserna o pessoal de serviço.

Avisado o comando da categórica determinação superior, preparamo-nos para partir. A reunião
da tropa foi feita sob forma peculiar, na realidade sui generis. Alguns clarins dirigiram-se a vários
pontos da cidade e "abriram o toque" de reunir. No máximo uma hora depois o regimento reunido
aguardava ordens. Às oito horas da noite, embarcados o pessoal e a cavalhada, partia uma
composição ferroviária, levando o nosso 21 Esquadrão, o primeiro escalão a seguir. Comandava-o
Alfredo Américo da Silva, o extraordinário capitão que, em 1930, resistiu ao ataque dos
"provisórios" ao quartel de cavalaria de São Borja.


Era um belo e disciplinado regimento o antigo 40 RCD!

Os oficiais empenhados nos afazeres do quartel e nos exercícios militares pareciam divorciados
da situação política, porém este alheamento era apenas aparente, visto que capitães e tenentes em
conversas informais acompanhavam os acontecimentos nacionais.


Víamos com satisfação as medidas do governo no combate ao comunismo e no fortalecimento do
poder central, muito corroído pelas voluntariosas oligarquias estaduais, cujas alianças manobravam
a política e a administração federais. Compreendíamos, pois, a necessidade de um Estado forte para
realizar definitivamente a Revolução.


Aplaudíamos a sua decisão de reduzir as numerosas forças policiais que davam aos
governadores o status de poderosos sátrapas, equipando-as somente com os meios suficientes para
manter a segurança pública e cooperar na interna. Admitíamos uma só Pátria - o Brasil - e, portanto,
uma só bandeira, panejando sobre nosso imenso território. Tudo o mais eram meros símbolos ou
estandartes merecedores de respeito, porém isentos de adoração.


Identificávamos em Getúlio Vargas um grande patriota, imbuído do espírito de 1922, e éramos
tolerantes com seus métodos políticos, logicamente diferentes dos castrenses, mas que
reconhecíamos adequados e imprescindíveis à conjuntura em que nos debatíamos.


Exclusivamente o idealismo norteava as nossas ações na obstinação religiosa de dignificar o
Exército e engrandecer a Pátria.


O tempo, entretanto, passados anos, mostrou-nos que naqueles dias de outubro a nossa marcha
para as barrancas do rio Euletério, na linha divisória do estado de São Paulo, colocando sob
ameaçadora vigilância o seu governo, abrira - como tantas outras - caminho para o advento do

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