IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Em certo trecho da entrevista do general Golbery há uma alusão sibilina quanto a fazer o jogo
"de uma determinada área que nós conhecemos".


Seria a área militar?

Perscrutando o documento, o que pode e deve ser feito pelos historiadores, vemos em sua
essência a hipocrisia de um governo - para não dizer deslealdade, termo mais adequado - que
declara publicamente algo à Nação enquanto age sigilosamente de modo contrário. Os ungidos da
simpatia palaciana são ali mencionados e, por caminhos tortuosos, deviam estar a par desta unção.


O comportamento que tiveram a 12 de outubro de 1977 estaria, assim, muito bem esclarecido.

Há a ressaltar, ainda, que o entrevistado não diz ser aquele o pensamento do presidente,
admitindo que o general Geisel provavelmente tomará"a deliberação de deflagrar a sucessão já no
segundo semestre". Mais adiante, mostra-se "convencido de que Geisel será sensibilizado a agir
desta maneira". Este sentido ardiloso de focalizar a questão confunde aquele que a lê, tornando-se
dificil perceber se ambos - ele e Geisel-já se achavam de acordo, mas Golbery não queria dizê-lo,
ou se era apenas uma orientação do Chefe da Casa Civil a ser sugerida ao presidente. Embora
Golbery procure dar força a esta segunda hipótese, penso que os dois estavam conluiados, não sendo,
no entanto, conveniente ao general Golbery demonstrá-lo.


Esta era a linguagem habitual do palácio, repleta de dubiedades, sofismas e insídias.

Se o destino uniu estes dois homens para o Bem ou o Mal do Brasil é resposta a cargo do futuro.

Ao entregar-me o documento, disse-me o general Ramiro que o jornalista ouvira do general
Golbery, ao término da entrevista, a afirmação que "eles não abandonariam o governo", frase
bastante enigmática. O repórter, tomado de dúvidas, ficou sem saber se a locução era uma ameaça de
manterem-se pela força no poder ou de continuarem, por outros meios, no novo governo.


No mesmo momento em que recebi esta informação complementar anotei-a, abaixo do texto da
entrevista, para assegurar sua fidelidade, sem traições da memória.


AS ENTREVISTAS DO GENERAL FIGUEIREDO


Como já foi dito, o general Figueiredo, assediado pelos jornalistas, no dia da transmissão do
Comando do Planalto, falou à imprensa sobre o caso do deputado Alencar Furtado e a sucessão
presidencial.


Ao ler nos jornais suas declarações, que provocaram numerosos comentários no meio militar,
liguei-me telefonicamente com o general Hugo Abreu e mostrei-lhe a inconveniência da entrevista,
em flagrante desrespeito à orientação presidencial.

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