- Mas, o que tenho eu com isto? Não cercaram porque não quiseram.
Terminou, assim, mais um despacho presidencial.
Soube, depois, pelo general Hugo Abreu, que Heitor Aquino Ferreira, secretário particular do
presidente, entregara a este um exemplar da revista Veja com reportagem sobre a recepção do
deputado Amaral Netto. Constava da publicação que eu, muito bem trajado, circulava pelo salão com
"ar presidenciável". Segundo Hugo Abreu, o secretário Aquino sublinhou o trecho em vermelho - cor
naturalmente de sua predileção - e mostrou-o ao presidente. Foi uma"inocente" informação, muito ao
sabor dos intrigantes do palácio do Planalto.
A ENTREVISTA DO GENERAL GOLBERY
Em junho, no dia do sepultamento da esposa do general Orlando Geisel, um jornalista do Estado de
S. Paulo conseguiu, no palácio do Planalto, uma ligeira entrevista com o general Golbery do Couto e
Silva. Esta entrevista, que o saiba, não chegou a ser publicada, segundo consta, por ter o general
Golbery sustado-a posteriormente. Recebia-a em "xerox'; trazida à minha residência por meu colega
de turma e amigo general-de-exército Ramiro Tavares Gonçalves, que a obtivera de pessoa ligada
àquele jornal. Estava em sua forma original, com as correções feitas pelo próprio entrevistado, ainda
consoante informações dadas ao general Ramiro.
É uma peça muito interessante na apreciação do quadro político da época e em face dos
acontecimentos ulteriores, ali colocados esquematicamente.' Sua análise deixa perceber claramente
que a intenção do presidente era sair da "estaca zero"; em relação às consultas, articulações etc...
A viagem que, nessa ocasião, empreendeu Heitor Aquino Ferreira, secretário particular do
presidente, por vários estados da Federação, não deveria estar divorciada desse propósito. É preciso
compreender que o Presidente da República não poderia estar alheio a estas articulações, porquanto
seu secretário particular não teria a audácia de realizá-las - nem a viagem nem as articulações - sem
o seu conhecimento. Sobre este desaparecimento de Heitor Aquino cabe, aqui, relatar um fato que
reafirma este último comentário.
Um de meus assistentes, ao encontrar Heitor Aquino, após algum tempo sem vê-lo, perguntou por
onde tinha ele andado. A resposta foi significativa da extensão do percurso:
- É melhor eu lhe dizer por onde não andei, pois é mais fácil...
Julgo que os discursos de 22 de dezembro de 1976 e as insistentes declarações de que o
problema sucessório somente seria tratado em 1978, compromissos tomados pelo Presidente da
República e seu Ministro do Exército perante a Nação, invalidaram-se em virtude dessa conduta.
E a Nação, que os ouviu? Ora, a Nação que fosse mandada às favas, porque, na realidade, o que
interessava era o poder.