IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

bem-estar de seus integrantes. As missões do Exército estavam expressas na Constituição e elas
seriam cumpridas disciplinada e rigorosamente. Repugnava-me, no entanto, a idéia de agir como
submisso representante ou emissário do presidente perante o Exército, emitindo pareceres favoráveis
a pretensões políticas em detrimento dos pensamento e interesses da coletividade que dirigia. O
presidente tinha o direito e a responsabilidade de aceitá-los ou rejeitá-los, mas o imperioso era que
os conhecesse.


Assim procedi ao receber o documento sobre o reatamento de relações diplomáticas com a
China e discordei, naquele momento histórico, da observação do general Hugo Abreu de que, sendo
da equipe do presidente, deveria opinar favoravelmente. Contudo, esta minha interpretação era quase
solitária porque, consoante informações seguras, dos sete oficiais-generais que, inicialmente,
discordaram do reatamento, cinco "pensaram melhor" e modificaram os seus pareceres, para dar
base militar à decisão presidencial.


O grupo palaciano, após a manifestação pública de H. Barreto, não perdeu tempo e passou a agir
quase ostensivamente. A ele se juntaram ou dele já faziam parte, mas não apareciam, os ex-ministros
Mario David Andreazza, José Costa Cavalcanti e Delfim Neto e o ex-governador Cesar Cals. Outros
políticos foram aparecendo, como Antônio Carlos Magalhães e Laudo Natel, os mais entusiasmados
adeptos do candidato Figueiredo.


Outros acontecimentos poderiam ser lembrados para mostrar que a campanha velada para
sucessão estava em curso desde o início do governo Geisel. O candidato "visado" pelo grupo
palaciano já era, naquela época, o general Figueiredo, segundo afirmou Heitor Aquino Ferreira a um
de meus ex-assistentes, em visita que lhe fez, altas horas de uma noite de abril de 1978. O general
Geisel, ainda de acordo com o que afirmou Aquino, pretendendo evitar a repetição do "caso Costa e
Silva", começara a governar com o problema sucessório equacionado.


O general Figueiredo procurava, através de churrascos semanais, atrair a oficialidade, em
particular a da Arma de Cavalaria, para a Granja do Torto, lugar em que se realizavam. O
comparecimento da maioria dos oficiais do SNI era normal, conforme se comentava. Todos
percebiam nesses encontros de confraternização uma forma de conquistar simpatias e aproximar
elementos do futuro candidato. Isto tornava-se de capital importância visto que o general Figueiredo
era muito pouco conhecido na tropa.


DOIS PARTIDÁRIOS DA CANDIDATURA FIGUEIREDO


Entre os militares da reserva os coronéis Mario Andreazza e Costa Cavalcanti eram os mais
fervorosos. Dedicarei algumas linhas a estes oficiais objetivando torná-los mais conhecidos.


Do aliciamento discreto, sob forma de convites para visitar o João, muitos feitos pelo secretário
do presidente, passaram os elementos do grupelho a uma campanha mais arrogante, pois não havia
temores de repressão.

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