IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Naquela época exercia eu o cargo de Chefe-de-Gabinete do Ministro do Exército, e acompanhei
todo o processo do coronel Boaventura, estando, portanto, a par de tudo que ocorria. Sendo membro
da CISEx, conhecia os resultados das sindicâncias. O parecer do CIE, após estudar exaustivamente a
questão, foi de que o coronel Boaventura deveria ser punido e transferido. Nada mais. Estava
assinado pelo coronel Adyr Fiuza de Castro e por mim homologado.


O coronel estava inocente de qualquer acusação criminosa; ocorrera somente uma transgressão
disciplinar.


O processo da CISEx, porém, não chegou a ser encaminhado ao presidente.

O que realmente aconteceu no gabinete presidencial, nunca soube. Disseramme, com relativa
certeza, que o marechal Costa e Silva chamara o ministro Costa Cavalcanti e mostrara-lhe uma
documentação, pedindo-lhe procurasse seu irmão - coronel Boaventura - e colhesse a verdade, visto
que não pretendia puni-lo severamente e talvez não o punisse.


Falou-se, então, do propósito de o governo transferir o coronel para a Amazônia, procedimento
que contava com o apoio do general Rodrigo Octávio Jordão Ramos, comandante daquela área
militar.


O ministro Costa Cavalcanti - consoante informações de fontes merecedoras de crédito - ouviu o
irmão e levou ao presidente um relato dos fatos ocorridos.


Aparentemente tudo terminara, quando surgiu a cassação do coronel Boaventura.

O ministro Costa Cavalcanti aceitou-a e continuou no cargo.

Sempre tive náuseas ao ouvir falar desse caso.

A CONVERSA TELEFÔNICA


Em princípios de setembro visitou-me, no meu gabinete em Brasília, meu amigo, o senador Luiz
Fernando Freire.


Disse-me o Lula - como é tratado pelos amigos - ter ido procurar-me para tratar de um assunto
de suma gravidade que considerava de muito interesse para mim, não só como Ministro do Exército
mas, também, como cidadão brasileiro. Contou-me então que recebera um telefonema de seu amigo
Lourenço José Tavares Vieira da Silva, presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA), narrando-lhe o seguinte fato de que fora testemunha:


Conversava ele - Tavares -, em seu gabinete de presidente do INCRA, com o general José Costa
Cavalcanti sobre assuntos de caráter administrativo, quando o bip daquele general deu sinal de que o
estavam procurando. Pediu, por isso, o general Costa Cavalcanti para usar o seu telefone. Feitos os

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