IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

segurança, narrara-lhe, em síntese, o seguinte:


Fora instado pelas autoridades a entregar as urnas expostas no Congresso, entretanto,
procrastinara em fazê-lo, sob a alegação de que tinha compromissos com outros órgãos de
publicidade de enviar-lhes os resultados. Compelido a ceder, exigiu que as urnas fossem incineradas.
Contudo, deu às autoridades outras urnas, pois obstinava-se em tornar pública a tendência dos
congressistas.


Descoberto o engodo, procurou-o um sargento do Exército, que o intimou a dar as verdadeiras
urnas. Recusou-se a entregá-las, apesar das ameaças, tendo o militar se retirado. Mais tarde, outro
militar, o coronel Osmany Maciel Pillar, assistente do general-de-exército Moacyr Barcellos
Potyguara, não sendo mais feliz na insistência de obter as urnas, levou-o à presença daquele general.'


No Estado-Maior das Forças Armadas, disse-lhe o próprio general estar agindo por ordem direta
do presidente Geisel, acrescentando que ou o jornalista entregaria as urnas verdadeiras ou
permaneceria preso. Nesta situação decidiu passar às mãos das autoridades, mediante recibo, as
desejadas urnas.


Participou-me ainda o tenente-coronel Foschiera que o jornalista estava temeroso de que viesse
a sofrer represálias.


Na manhã imediata, coloquei o general Chefe do CIE a par desta narrativa, dizendo desconfiar
de sua veracidade, porquanto não havia explicação para que o presidente, podendo empregar a
Polícia Federal ou a Militar de Brasília, através do governador, ou, em último caso, qualquer dos
órgãos de segurança das três Forças, fosse dar aquela missão ao Estado-Maior das Forças Armadas,
órgão normativo e de planejamento. Mutatis mutandis, seria o caso de o Ministro do Exército
encarregar o Estado-Maior do Exército, também órgão normativo e de planejamento, de efetuar
prisões.


Algo deveria estar errado; que o Chefe do CIE apurasse.

Procedidas as investigações, confirmaram-se, integralmente, as declarações do jornalista.

Somente uma ilação era plausível - o presidente queria, em definitivo, sepultar os resultados da
eleição prévia do Congresso, valendo-se, para isso, de um órgão que, na sua opinião, lhe assegurasse
absoluto sigilo.


E por quê?

Por que não tomou providências no mesmo sentido em relação às eleições que se faziam, com
resultados favoráveis ao general Figueiredo, nas Câmaras estaduais?


Porque as primeiras, se divulgadas, prejudicariam a campanha velada de seu candidato, ao passo
que as últimas a beneficiariam.

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