IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

inteligentes, embora sem escrúpulos, que dispunham de recursos financeiros. As entrevistas com
pessoas dos mais variados setores de atividades estavam, quase diariamente, nos jornais. Desde um
estivador baiano a um presidente de confederação esportiva, todos teciam encômios - verdadeiras
loas - ao candidato Figueiredo, homem que raros deles conheciam, pois, a rigor, como já disse, até
no Exército, de cuja tropa estava afastado há mais de oito anos, poucos o conheciam bem.


Surgiram, também, as "eleições prévias", em Câmaras estaduais e, se não me engano, em algumas
municipais. Um deputado, naturalmente simpático ao candidato de Humberto Barreto, lançava idéia
de apurar entre os possíveis aspirantes ao cargo o da preferência da Câmara. Os nomes apontados
eram muitos, porém entre eles apareciam, permanentemente, os dos generais Frota, Figueiredo, Euler,
Reynaldo e dos políticos Magalhães Pinto e Ney Braga.


Feita a apuração, despontava em posição destacada o general Figueiredo, invariavelmente na
primeira ou segunda colocação, resultado logo difundido pela imprensa. Estas "prévias" eram,
contudo, de veracidade duvidosa, admitindo-se, até, fossem adrede preparadas e ajustadas à
propaganda pretendida.


O Correio Braziliense, jornal da capital, resolveu, creio que em agosto, realizar uma prévia
eleitoral no Congresso Nacional, visando a colher as simpatias dos parlamentares quanto aos nomes
sugeridos para Presidente da República. Com este objetivo colocou naquele recinto uma urna.


Os jornalistas que acompanhavam a votação - embora esta fosse secreta - pelas conversas com
os congressistas, iam formando uma idéia da tendência geral, que não era, em absoluto, favorável ao
general Figueiredo. Afloraram desta observação comentários e especulações que, no ambiente de
Brasília, correram qual rastilho de pólvora até ao palácio do Planalto. A reação não se fez esperar -
houve ordem de apreender a urna. Entretanto, antes de entregá-la, os jornalistas procederam a uma
verificação. Menciono, por interessante, o resultado que me foi transmitido pelo meu serviço de
informações. Na primeira colocação Magalhães Pinto, na segunda os votos em branco, na terceira
Frota, na quarta, se não me engano, Euler, na quinta Figueiredo, com muito poucos votos. A urna,
depois disso, segundo afirmaram posteriormente jornalistas, foi entregue a elementos do Ministério
da justiça.


A divulgação deste resultado seria arrasador para os homens da candidatura Figueiredo;
portanto, nada difundiu a imprensa.


O general Hugo Abreu, em seu livro O outro lado do poder, às folhas 99 e 91, alude a este
episódio, não o fazendo, no entanto, de forma completa.


Não sei os motivos que o levaram a isto, porém penso não desejou abordá-lo por extenso.

Dias depois de ter sido apreendida a urna, fui procurado em minha residência pelo tenente-
coronel José Vilson Foschiera, assessor de meu gabinete junto ao Congresso. Contou-me ele ter sido
procurado por um repórter do Correio Braziliense que, mostrando-se apreensivo com a sua

Free download pdf