a qual colhia informações.'
Em setembro daquele mesmo ano, Luiz Fernando - o legítimo filho de Vitorino Freire - visitou-
me no Ministério. Estava visivelmente irritado e revoltado contra o procedimento de Henrique
Soares, que definia como de um canalha. Disse-me indignado, ao avistar-me:
- General Frota! O meu pai criou um monstro! O Henrique vem ao seu gabinete para captar
confiança, colher informações e transmiti-las ao general Geisel. É um monstro!
Procurei acalmá-lo, mostrando-lhe que um alcagüete do palácio não teria êxito num ambiente
sadio e de trabalho, como era o nosso. Mandei, porém, chamar o general Bento, a quem avisei da
real qualidade moral do seu suposto amigo Henrique.
O fato narrado pelo general Hugo Abreu realça o alastramento da irresponsabilidade e da
baixeza nos círculos oficiais de Brasília.
O espião Henrique inventa ou, levianamente, apoiando-se em notícias tendenciosas muitas vezes
colocadas em circulação por elementos do SNI, dá curso a boatos. Estes, pela incapacidade ou
iniqüidade do serviço de informações da 11á Região Militar, transvestem-se em límpidas verdades,
entregues logo ao Comandante Militar do Planalto. O general apressa-se, à surdina, em revelar a
"confabulação" ao Chefe da Casa Militar - pela presteza não devia ser a primeira vez que o fazia -
intrigando seu comandante direto com o governo.
E o general Hugo Abreu? Este não teve a lealdade de amigo - que se dizia meu - para tratar do
assunto, ventilando-o clara e diretamente comigo. Aceitou a insinuação torpe de um subordinado
sobre seu comandante, homologou a violação da linha hierárquica e ainda o protegeu de punição
inevitável, silenciando e escondendo-me a entrevista.
Talvez quisesse preservar não o general, mas o informante, ente valiosíssimo nas fases de pré-
traição.
Foi um comportamento surpreendente para um bravo capitão da FEB, que sempre se orgulhou de
ser soldado, a quem muito estimava e cujo sistema circulatório não suportou as pressões de uma
conjuntura de traições, perseguições e baixezas.
UM PROCEDIMENTO SÓRDIDO
As lutas políticas, com suas campanhas agitadas, radicalizam-se com freqüência em torno de temas,
principalmente, quando têm caráter ideológico.
Entretanto, só as processam em condições rasteiras os candidatos sem dignidade. Repugna aos
homens de bem invadir a vida particular de seus oponentes, enlameando-os com acusações sem
fundamento, trazidas por aduladores sequiosos de compensadores sorrisos. Precisamos entender que