Preocupados com esta circunstância, amigos particulares confidencialmente manifestaram sua
desconfiança de que o político mineiro agia em consonância com os manobreiros do palácio do
Planalto. Não aceitei essa advertência, julgando-a mais um injustificável temor do que uma
realidade.
O fato de ter sido beneficiado com boas comissões, após a"estrondosa" vitória do general
Figueiredo, não modificou minha opinião. Foi mera conseqüência de suas ligações políticas e não
deve ser reputado como um pagamento de serviços prestados.
O general Jayme Portella também não foi poupado de acusações semelhantes, que julguei
injustas.
Entretanto, a sua súbita integração ao oficialismo planaltino, que sempre combateu, realizando
em segredo entendimentos com o senador seu xará e talvez parente, visando a arrastar para as
desfalcadas hostes do candidato oficial um grupo de deputados independentes, pode explicar aquelas
imputações. Indica mais um prosseguimento de conduta do que uma mudança de posição.
A corroborar com este ponto de vista está a já citada entrevista ao jornal da Cidade, em que se
lê:
Portella finalizou sua entrevista ao jornal da Cidade fazendo um rasgado elogio ao homem que
ele considera (nós também consideramos), o general de maior visão e inteligência em atividade
no governo: o ministro Golbery do Couto e Silva. Portella afirmou que ele e Golbery viveram
momentos difíceis no Exército, que tentou evitar que ele fosse para a reserva, mas que hoje
sente-se feliz em vê-lo na Casa Civil da Presidência, já no segundo governo, dando um
verdadeiro "Show de habilidade, inteligência e capacidade".
O difícil para os homens de bem é admitir que, no círculo de seu relacionamento profissional ou
de amizade, os outros não o sejam.
As decepções, quando ocorrem, além de inesperadas são confrangedoras. Mas os homens não
mudam, apenas revelam, nos dias penosos, o seu genuíno feitio moral.
- Não tive em minha vida militar oportunidade de servir com o general João Figueiredo;
conhecia-o através de excelentes conceitos, emitidos por nossos colegas. Sua colocação na turma de
Cavalaria deu-lhe certa projeção e foi muito amparado pelo prestígio político-militar de seu pai, em
sua carreira.
Sabia-o exigente no cumprimento dos regulamentos e capaz no exercício da profissão. Durante o
governo do general Emílio Garrastazu Médici - o maior de todos os presidentes da Revolução -, por
imposição funcional, passei a vê-lo mais amiúde. Confirmei a impressão íntima de que era um
homem cheio de si, bastante vaidoso, com aspirações a líder. Mas isto era de pouca importância
porque a vaidade é como a água benta - cada um toma a porção que quer - e aspirações nada mais