procedimento de Todman e, também, nossa estranheza pela passividade com que as autoridades
aceitaram-no.
Tinha certeza que as nossas relações - minhas com o presidente - pela sórdida campanha de
intrigas do grupelho do Planalto, tornavam-se, dia a dia, mais difíceis, pretendendo eu, por isso,
abordar a questão com habilidade na última parte do despacho, reservada aos problemas
conjunturais.
Mas... o homem põe e Deus dispõe. Naquela terça-feira, em virtude da ausência de alguns
generais-de-exército, em Brasília, e de não terem os Departamentos e o Estado-Maior do Exército
remetido documentos pendentes de decisão presidencial, nada tinha de caráter administrativo para
apresentar ao general Geisel.
Nestas circunstâncias, iria ao palácio do Planalto somente para transmitir ao presidente o
protesto dos generais, o que, por mais eufêmica fosse a participação, não deixaria de soar como uma
censura ao governo, especialmente por estar o general Geisel sempre propenso a interpretar
maldosamente minhas palavras e atitudes. Veria provavelmente, na minha ida ao palácio, o propósito
de pressionálo ou desgastar a sua autoridade. E, depois do áspero desentendimento do dia 9 de
agosto, eu evitava novas fontes de atrito.
Contudo, a promessa feita aos generais deveria ser cumprida, a qualquer preço. Decidi, portanto,
tratá-la em despacho posterior, no correr das apreciações conjunturais.
Telefonei, por conseguinte, ao general Hugo Abreu, Chefe da Casa Militar, e disse-lhe que, não
tendo expediente para submeter à consideração do presidente, perguntava se este não via
inconveniente em dispensar-me da audiência.
A resposta positiva veio logo, acrescida da informação de que o general Geisel nada tinha de
importância a tratar comigo.
Não era rara esta solicitação de ministros, muitas vezes forçados a isto por mudanças
imprevistas em seus programas de trabalho ou em face de acontecimentos inesperados. O presidente,
segundo o próprio general Hugo Abreu, aproveitava estas oportunidades para desafogar outros
setores da administração. Nunca me valera dessa norma permissiva, comparecendo invariavelmente
aos despachos, nos horários fixados.
Em seu livro tantas vezes aqui mencionado - O outro lado do poder - à página 123, diz Hugo
Abreu:
Ao mesmo tempo que se desenvolviam tais acontecimentos na área parlamentar, o general Frota
cometeu um erro que lhe foi fatal. 4 de outubro era dia de audiência do Ministro do Exército com
o Presidente. Apesar do tenso ambiente de intrigas que estávamos vivendo naqueles dias, o
general Frota mandou solicitar o cancelamento da audiência, já que não tinha assunto a tratar com