IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Na balbúrdia das sugestões, levantou-se o capitão de Artilharia Jarbas Passarinho, que propôs
fosse dado o nome de Cruzada Democrática às atividades do nosso grupo. Explicou com eloqüência
a justeza e a racionalidade da sua proposta. As Cruzadas, disse ele, foram expedições de fé para
libertar a Cidade Santa retirando-a do domínio dos ateus; o nosso movimento também o era de fé e
visava a retomada do Clube Militar dos infiéis da Democracia. Afastados no tempo por séculos, no
entanto, estavam ligados espiritualmente pela mística da liberdade.


Recebeu aplausos e aprovação unânimes.

Assim nasceu a Cruzada Democrática, que a despeito de todas as perseguições e restrições
sofridas, firmou-se no conceito da oficialidade, estendeu-se por todo o Brasil e venceu as eleições
do Clube Militar no biênio 1952-54, elegendo uma diretoria presidida pelo ínclito general-de-
divisão Alcides Gonçalves Etchegoyen, que despejou de nossa entidade de classe os nacionalistas
moscovitas.


Mais uma vez, através de uma reação sadia e resoluta - expressão do seu pensamento democrata
liberal - as Forças Armadas reafirmavam sua aversão ao comunismo.


Em 31 de janeiro de 1951, o general Dutra entrega o governo a Getúlio Vargas, eleito pelos
trabalhistas e pelos populistas de Adhemar de Barros, com o forte apoio que o PSD, traindo seu
candidato, dera ao homem que o criara.


Na esteira do novo presidente veio seu pupilo João Belchior Marques Goulart - nome ofuscado
pelo apelido Jango - cujas idéias sindicalistas transbordavam de suas atividades e palavras.
Nomeado Ministro do Trabalho, deu curso a uma política coerente com seu pensamento,
freqüentando o meio sindical com assiduidade, quando fazia aos trabalhadores promessas tão
demagógicas quanto irrealizáveis. Falou-se então abertamente num "justicialismo brasileiro" à
semelhança do vigorante, naquela época, no Prata.


Ocorreu que Getúlio Vargas, no período do Estado Novo, consoante a opinião de conceituados
analistas políticos, tinha procurado firmar-se nos sindicatos para alongar sua permanência no poder.
Atribuíam-lhe, até, tolerâncias com grupos socialistas, o que na realidade era um exagero ou má-fé,
visto que as medidas de caráter social que decretou, há muito sedimentadas nas grandes nações
democráticas, já tardiamente chegavam para o povo brasileiro.


No seu séquito ministerial, no entanto, dois nomes explicavam esses comentários - general
Estilac Leal e João Goulart.


Os jornais e demais órgãos da imprensa não escondiam o procedimento populista de Jango que,
desprezando a austeridade do cargo de ministro, aparecia nas reuniões do operariado em mangas de
camisa, na promiscuidade usual dos demagogos, abraçando todos e beijando crianças, como se essas
exteriorizações, ainda hoje tantas vezes imitadas, afirmassem algo de solidariedade humana.

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