Nesse agitado panorama, um punhado de oficiais - cônscio da necessidade de organizar um
núcleo de reação para extirpar daquele Clube a falange vermelha que o ocupava - reuniu-se, visando
a antecipar medidas que levassem à vitória uma chapa exclusivamente democrática, nas eleições de
1952 para a presidência do Clube Militar. Orgulho-me de ter feito parte desse grupo.
Como é normal nessas ocasiões, todos a quem falávamos estavam de pleno acordo com a
organização de um Movimento Cívico que nos recuperasse o Clube; entretanto, a cooperação que a
maioria absoluta nos prestava era apenas platônica. Precisávamos de um local para reunirmo-nos;
uma dependência do Clube foi-nos negada pelo seu presidente, também Ministro da Guerra. Outros
locais lembrados foram delicada e habilmente recusados sob pretextos vários.
Era uma fase em que o pensamento militar começava a vacilar entre os ideais e os interesses. A
maioria esmagadora do Exército repelia - como demonstrou na eleição de 1952 - a orientação
esquerdista do Clube Militar, todavia, no momento de apoiar concretamente a ação de seus colegas
oficiais que enfrentavam abertamente os marxistas ali instalados, desinteressava-se da questão,
agindo, sem o perceber, como o avestruz do deserto que esconde a cabeça sob as asas para não ver a
tempestade.
O general Estilac, como já disse, além de presidente do Clube era, em 1951, ministro - senhor
poderoso das transferências, punições etc. Não convinha, portanto, contrariá-lo.
Finalmente, conseguimos que a Federação dos Escoteiros do Brasil autorizasse uma reunião em
sua sede na avenida Rio Branco. Ali estivemos, cerca de trinta oficiais, na sala de esporte daquela
organização que, a despeito da boa vontade com que foi cedida, era inadequada para os nossos
propósitos.
O general da reserva Manoel Henrique Gomes, presidente do Clube de Oficiais Reformados e da
Reserva das Forças Armadas, sabendo de nossas dificuldades para obter um local de reuniões e
conhecedor dos elevados e patrióticos objetivos que tínhamos em vista, cedeu-nos a sede do Clube.
Naquela casa, fronteira ao Campo de Sant'Ana, em que viveu e morreu o proclamador da
República - marechal Deodoro da Fonseca -, estruturou-se e cresceu uma agremiação que desejava,
em última análise, a preservação da democracia liberal pelo combate constante às idéias
totalitaristas.
Numa das primeiras reuniões, de relativa afluência, procurou-se um nome para o nosso
movimento de opinião que, a par de lembrar a sua finalidade, sensibilizasse pela forma e sentimento.
Faltava-lhe uma denominação que condensasse, em pequena locução, a grandeza de nossas
aspirações de combater a horda comunista que dominava o Clube Militar, reintegrando-o na sua
lídima finalidade de confraternização das Forças Armadas.