IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Redigi, rapidamente, um cartão ao Bethlem, alertando-o sobre as intrigas de Brasília e
orientando-o quanto aos meus propósitos de defendê-lo.


O dr. Armando Daudt de Oliveira - o industrial aludido -, que, a meu pedido, aceitara a
incumbência de entregar a missiva, no aeroporto do Rio, a um oficial do gabinete, partiu célere para
não perder o avião das nove horas da noite.


Entretanto, em virtude do desconhecimento das novas instalações do aeroporto do Galeão, houve
um desencontro e o documento não foi recebido no mesmo dia. Na manhã seguinte, quando se dirigia
para apanhá-lo, o oficial do gabinete soube de minha demissão, regressando rapidamente ao quartel-
general sem fazê-lo. Posteriormente, o dr. Armando Daudt devolveu-me diretamente.


Eis seu teor:

Brasília, 11/10/1977

BETHLEM

Um abraço.

Soube, hoje, através de informes, que o Relatório Especial de Informações n° 01/77 foi do
conhecimento de elementos do Palácio do Planalto, que estão envenenando junto ao Presidente
da República o assunto do mesmo. Nada vi de anormal, senão um exame sincero e franco da
situação. É possível que alguém lhe procure para falar, oficiosamente, sobre a matéria.

É apenas um alerta, mas acho que você não deverá tratar com ninguém sobre isto. Diga que
neste terreno, especialmente, só se entenderá com o ministro, que nada lhe falou a respeito,
devendo, por isto, estar de acordo. E... estou com tudo que você fizer!

Entretanto, creio que estas coisas não passam de boatos que alimentam Brasília.

Estarei sempre solidário com você, velho e estimado amigo.

Com um abraço do

FROTA.

A revista Veja publicou, em reportagem sobre o assunto, uma cópia desse cartão. Não sei quem o
divulgou, porquanto após tê-lo recebido, pessoalmente, do dr. Armando, cedi-o a vários
companheiros que desejavam lê-lo.'


Retirando-se o dr. Armando Daudt, procurei, ainda naquela noite, uma ligação com Hugo Abreu,
que não foi encontrado. Pretendia ouvi-lo sobre os boatos da prisão de Bethlem, por confiar nas suas
informações, pois tinha Hugo como amigo. Entretanto, em O outro lado do poder, ele, com a
consciência pesada, ao saber que o procurara, interpretou o telefonema como uma manifestação de

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