- 0 presidente quer falar com o senhor... E franqueou-me a passagem.
O general Geisel estava sentado à cabeceira da mesa de despachos, na posição que normalmente
ocupava. Cumprimentei-o e sentei-me.
Foi direto ao assunto, dizendo-me que não conseguia se acertar (empregou exatamente este
vocábulo) comigo. Afirmei-lhe que jamais lhe fora desleal; asserção que confirmou. Acrescentei que
sua orientação tinha sido sempre respeitada.
Discordou o presidente, referindo-se aos relatórios de informações que - do seu ponto de vista,
naturalmente - faziam críticas ao seu governo. Repeli esta insinuação, alegando que se algo ocorrera
nesse sentido passara despercebido.
Compreendi, de imediato, que o presidente não diria a verdadeira causa de minha desejada
demissão. As razões eram de ordem especificamente política, prendiam-se à permanência do
grupelho no poder, transformando desta maneira o país num feudo de compadres.
Insisti, portanto, dissesse os motivos, recusando-se ele categoricamente a fazê-lo.
Irritado, porque um de seus objetivos, que era meu pedido de demissão, não estava sendo
alcançado, declarou o presidente em tom áspero:
- Eu estou incompatibilizado com você; solicite demissão!
O meu pedido de demissão colocar-me-ia nas mãos dos intrigantes do palácio, que buscariam no
seu arsenal de calúnias as mais vituperiosas para explicá-lo. Não poderia ceder e usei em revide à
grosseira irreverência de Geisel a resposta abaixo sintetizada:
- Não vejo razão para demitir-me porque não me julgo incompatibilizado com o cargo.
Exasperou-se o presidente, o que por seu temperamento emocional não constituía surpresa, bateu
com a palma da mão na mesa e gritou:
- Mas o cargo é meu!
Incontinenti, retruquei:
- Por isto cabe ao senhor demitir-me, pois não pedi para ocupá-lo...
Replicou o general Geisel, em voz alta:
- É o que farei!
Levantamo-nos ao mesmo tempo. Estendeu-me a mão e melifluamente pediu: