IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

  • Não fique meu inimigo...


Cumprimentei-o sem proferir palavra sequer, dei-lhe as costas e retirei-me.

Na saída da sala contígua, encontrei o general Hugo Abreu e informei-o:


  • Hugo, o presidente acaba de exonerar-me..., e continuei andando em direção ao elevador.

  • Estava previsto desde sábado, respondeu Hugo Abreu.


Parei surpreso e olhando-o fixamente perguntei:


  • E você sabia disso, Hugo?


O general Hugo deu alguns passos e esclareceu:


  • O motivo foi meramente político... Vou escrever-lhe uma carta...


Cumprindo o que prometera, enviou-me uma carta no mesmo dia.4

Os fatos narrados na página 138 de seu livro O outro lado do poder não expressam a verdade. O
general Hugo não apareceu para receber-me no palácio do Planalto, no dia 12 de outubro. Aguardou-
me, sim, à saída do gabinete presidencial. As únicas palavras que trocamos estão contidas no diálogo
acima. O meu ajudantede-ordens testemunhou-o e confirma o que narrei.


Por que teria Hugo Abreu dado esta versão que não é verdadeira?

Especulemos, em especial, sobre a locução "O motivo foi meramente político".

Quem lê o livro de Hugo Abreu não pode ter dúvidas de que o objetivo do grupelho palaciano
era expelir-me do Ministério. A afirmação disto encontra-se, a todo momento, no decorrer da leitura.


Ora, há meses, o general Hugo mandara-me dizer pelo seu assessor, tenentecoronel Kurt Pessek,
que, se eu fosse exonerado por qualquer motivo sem vinculação militar-administrativa, ele - Hugo
Abreu - sairia da Casa Militar comigo. Transmitiu-me a informação um de meus assistentes, que a
recebeu.


No momento em que me retirava, no entanto, o general Hugo proferiu aquela expressão,
acentuando a causa política como responsável pela exoneração. No en tanto, não se demitiu. Em sua
carta de 12 de outubro modifica essa versão, adotando a dos palacianos, talvez por influência do
presidente ou por conveniência própria. Procurava, assim, desobrigar-se de um compromisso
espontâneo.


O meu chefe da segurança pessoal conhecia essa promessa de Hugo Abreu, por isso interpelou-o,
ainda no palácio, sobre sua intenção de cumpri-la.

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